Veterinária e árbitra de MMA, Camila Albuquerque diz: "Tenho 135 lutas".
25/02/2015 12:58
O UFC do último domingo foi o primeiro da história de Porto Alegre. O ineditismo do evento na capital gaúcha, no entanto, não ficou restrito ao show. Camila Albuquerque, única mulher no atual quadro de arbitragem da CABMMA (Comissão Atlética Brasileira), estreou em um evento do Ultimate e, pela primeira vez, uma brasileira foi a autoridade máxima dentro do octógono.
Natural do Ceará, Camila comandou a luta entre Douglas D'Silva e Cody Gibson e o duelo de Jéssica Bate-Estaca com Marion Reneau. Veterinária, Camila, de 30 anos, que treina Sanda (modalidade de luta do kung fu) há dez e é faixa-azul de jiu-jítsu, ganhou visibilidade na última edição do UFC. Entretanto, em entrevista ao Combate.com, ela afirma que já arbitrou 135 lutas de MMA - somadas as duas do fim de semana.
- Após seis anos no kung fu, sofri uma lesão no joelho, ficando seis meses afastada. Para me manter em contato com o esporte, comecei a arbitrar lutas de kung fu, em 2008. Há três anos, meu professor, Fernando Moura, insistiu para eu arbitrar lutas de MMA. Fiz um curso do Mário Yamasaki (coordenador de arbitragem da CABMMA) em Manaus e passei a atuar em eventos locais. Tenho 135 lutas, em 44 eventos - declarou Camila, que também fez curso com Yamasaki no Rio de Janeiro, no qual foi aprovada após testes teóricos e práticos.

A improvável paixão pela arbitragem foi arrebatadora. Por isso, concilia a administração e os atendimentos que presta em sua própria clínica veterinária, o que ocupa quase o seu dia inteiro. À noite, a agenda é tomada pelos treinos de MMA.
- Quando tive o meu primeiro contato com a arbitragem, ela me conquistou de primeira. É muito bom, é uma adrenalina ótima! Você sente a tensão que está ali nos atletas. Quando meus amigos falam que compraram ingresso para ver de perto do octógono, eu brinco que o meu lugar é o melhor para assistir à luta (risos) - conta Camila, pedindo uns minutinhos para para atender clientes da pet shop enquanto concede a entrevista.
Acostumados a ver Camila no consultório, de jaleco, cuidando de animais domésticos, os clientes se surpreendem quando sabem que ela é árbitra de MMA. Com o alcance do UFC, na terça-feira, ela passou por mais uma situação deste tipo.
- Nossa, ninguém acredita. Falam: "Você está brincando, não é? Você é meiguinha, pequena, os caras são grandões... É pancada séria, eles sangram". Eu falo que é verdade (risos), mostro fotos. As pessoas ficam impressionadas. Aconteceu isso hoje (terça). Um cliente antigo não sabia, me viu na televisão e falou: "É a veterinária do meu cachorro (risos)!", diverte-se.

Nas artes marciais mistas, apesar de o sexo feminino ter conquistado espaço, ainda é pouco comum a presença de mulheres na arbitragem. Camila afirma que os olhares preconceituosos existem; porém, estão menos frequentes.
- No começo, havia bastante. Eu ficava com muita raiva. Subia no octógono e soltavam piadinhas, era novidade, o público nunca tinha visto, não havia muita confiança dos atletas. À medida que foram vendo que era sério, que eu tinha responsabilidade, passava segurança a eles, ficou mais tranquilo. Diminuiu bastante essa forma de preconceito - disse Camila, que conquistou a confiança dos atletas com passar do tempo.

- Ficou mais tranquilo conforme foram vendo o trabalho que eu desempenhava. Temos de passar as regras no vestiário antes das lutas e, nos eventos regionais, acontecia de um atleta ficar conversando enquanto isso, olhar para o outro lado. Às vezes ocorria até pela adrenalina. Tinha que ter pulso firme, pedir que prestasse atenção - conta a cearense, que viu realidade bem diferente no Ultimate.
Camila torce para que suas aparições nos eventos de MMA atraiam outras mulheres para a arbitragem. Nos Estados Unidos, Kim Wislow aparece com alguma frequência no centro do octógono. No Brasil, mulher no comando do cage é raridade.
- Eu espero que aconteça, tem espaço para isso - finaliza Camila, esperançosa.