Velejadores temem perder Rio 2016 por falta em antidoping: "Neuróticos".
24/06/2016 10:16Atletas brasileiros que disputarão os Jogos Olímpicos estão sendo testados como nunca haviam sido. A iniciativa da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) visa evitar casos de doping do país-sede na Rio 2016. Por isso, o número previsto de exames este ano triplicou em relação aos anteriores: cerca de 2.500. Boa parte deles está sendo feito fora de competição, o que vem dando uma dor de cabeça ao Comitê Olímpico do Brasil (COB). Há casos de atletas que por duas vezes não foram encontrados pelos agentes de controle e estão pendurados. Mais uma falta serão punidos, como se o exame estivesse dado positivo, e ficarão de fora dos Jogos.

Dentre os casos estão três velejadores: Isabel Swan, da Nacra 17, Patrícia Freitas, da RS:X, e Gabriel Borges, da 49er. O rigor incomoda o coordenador técnico da equipe brasileira, o bicampeão olímpico Torben Grael, ainda mais em um esporte no qual o doping é algo raríssimo.
- Não dá para o ABCD ficar ficar enchendo o saco dos atletas para fazer 1 milhão de testes para dizer que é efetivo. Queria ver eles fazerem isso nos atletas estrangeiros. É o famoso complexo de vira-latas a gente ficar se sujeitando a essa situação por uma coisa que não tem nada a ver. A vela não é uma modalidade onde o doping faz diferença. É um esporte aonde tem a mistura da parte física com a intelectual. Não faz sentido fazer antidoping. Não justifica porque não deveria estar com três faltas. Mas acho que há um exagero muito grande. Nenhum outro atleta de nenhum outro país está sendo testado a quantidade de vezes que eles estão sendo testados. Por que essa diferenciação? - disse Torben.
Para serem localizados pela ABCD, os atletas precisam preencher um aplicativo que pode ser baixado em seus celulares ou em seus computadores, o ADAMS, no qual informam suas localizações diariamente. Gabriel perdeu o teste uma vez porque dormiu na casa da namorada e se esqueceu de atualizar o aplicativo. Em uma das faltas de Isabel, que foi testada em março, ela simplesmente não ouviu os agentes baterem a porta de sua casa porque estava com o ar-condicionado ligado e a porta do quarto fechada.
- Isso vem nos deixando neuróticos! Tenho que atualizar o ADAMS toda hora - diz Gabriel, parceiro de Marco Grael.
Secretário da ABDC, Marco Aurélio Klein se defende das reclamações no aumento do número de testes.
- Não há exagero nenhum. Apenas estamos fazendo nosso trabalho que é testar atletas de alto nível fora de competição. É o que precisa ser feito e está sendo feito nos principais países do mundo. Não existe nesta altura da preparação para os Jogos uma organização nacional antidopagem que não teste seus atletas, especialmente fora de competição. Alguns estão sendo testados por demanda da própria Wada - disse.
A maioria dos atletas cumpre o compromisso, segundo Klein. Sobre o fato de a vela ter casos escassos de doping, ele afirma que não há esporte isento do processo.
- Na política internacional de luta contra a dopagem no esporte não existe isto de "esporte em que não é comum a dopagem". Dentre outros, estes testes estão sendo feitos com os melhores atletas, que são participantes do Bolsa Pódio e potenciais medalhistas. É um compromisso que um atleta de altíssimo rendimento precisa cumprir, e a esmagadora maioria cumpre. E procuramos ajudar que cumpram, colocando nossos recursos para orientar e ajudar - disse.

Diante da preocupação com as faltas, o diretor executivo do COB, Marcus Vinícius Freire, pensa em propor à Agência Mundial Antidoping (Wada) que o limite de faltas seja proporcional ao número de testes.
- Um cara que falta três vezes em 100 é diferente do que falta três em quatro. Nossa preocupação tem sido com o aumento do número de testes. Nosso medo hoje é sobre o cara que nunca teve problema nenhum, que a gente sabe que nunca teve histórico de doping, em esportes que têm risco baixo ou histórico muito pequeno. Temos atletas que têm duas faltas, com a possibilidade de amanhã um deles dormir na casa da namorada, perder um teste e ser excluído da Olimpíada sem nunca ter sido positivo - disse Freire.
Para evitar tal vacilo, o COB e o Comitê Paralímpico Brasileiro alertam os atletas para os riscos de não cumprimento dos processos da Wada e da ABCD. A agência avisa às entidades sobre o histórico de testes e fornece logins e senhas do ADAMS dos atletas.