Trauma no passado, lance livre segue abaixo do ideal e preocupa a seleção.

27/08/2014 12:19

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No próximo sábado, o Brasil inicia sua 17ª trajetória na Copa do Mundo de basquete, na Espanha, tentando voltar a subir no pódio, fato que não acontece desde 1978 nas Filipinas, quando terminou na terceira posição. De lá para cá, um quarto lugar também no país ibérico em 86 e muitas frustrações. Agora, a expectativa é ganhar a sétima medalha na história da competição, independentemente da cor. A confiança para isso vem da combinação elenco entrosado, time experiente e garrafão de respeito com Nenê, Tiago Splitter e Anderson Varejão. 

Mas algumas preocupações rondam o bicampeão mundial em 1959 e 1963. Durante a fase de preparação, dois fundamentos não funcionaram da forma como Rubén Magnano gostaria. O primeiro deles, a irregularidade nos arremessos de quadra, que em algumas partidas tiveram um aproveitamento abaixo dos 50%. Contudo, o lance livre vem sendo o calcanhar de aquiles dos brasileiros. 

Nos três torneios amistosos antes da competição espanhola, o Brasil teve um rendimento preocupante, chegando a ficar na casa dos 40% na partida contra a Argentina, pelo Torneio Três Nações, em Buenos Aires. O mau desempenho no quesito foi determinante para a derrota por 85 a 80. Já em Chicago, diante dos EUA, foram oito bolas convertidas das 16 tentadas, média muito menor que a dos americanos, que converteram 27 dos 31 batidos. Nenê foi o que mais errou na ocasião, com quatro em sete tiros. 

- Eu disse para eles que nosso percentual de campo de tiros livres está muito baixo. Não podemos jogar com 50% de tiro livre. Temos que ter muito mais foco, trabalhar nisso e chegar a um percentual de 80%, 85%. Já tivemos problemas contra a Argentina, quando terminamos um tempo cinco, seis pontos à frente e errar quase 80% de tiro livre. Isso pesa - confirmou Magnano.

info Lances Livres (Foto: infoesporte)

 

Na derrota para a Lituânia por 64 a 61, no Torneio Internacional da Eslovênia, foram sete desperdícios em 17 (58.8%). Novamente o pivô do Washington Wizards foi o que mais vacilou, com cinco erros em oito (37.5%), sendo dois no minuto final, quando a partida estava empatada. No dia seguinte, na vitória sobre a Eslovênia na prorrogação, o desempenho brasileiro foi ainda pior: 14/31 (45.1%). Jogadores como Marcelinho, Alex e Marquinhos, que não costumam errar, desperdiçaram. Mas os desempenhos mais preocupantes foram de Varejão, um em quatro (25%) e Tiago Splitter, quatro em 11 (36.4% - veja dois erros no vídeo acima). O índice, no entanto, teve uma melhora acentuada na vitória sobre o Irã, na despedida do torneio na Eslovênia: 77% de acertos.

- Lance livre é momento, treinamento e confiança, é um pouco de tudo. Nosso aproveitamento não está muito bom, sabemos que tem que melhorar, tem que ter uma porcentagem mais alta de acertos, mas temos que continuar treinando que as bolas vão cair - garantiu Varejão.

DEFICIÊNCIA JÁ DERRUBOU SELEÇÃO NO PASSADO

 

E não é de agora que o "pênalti do basquete" gera problema para o Brasil. Nos últimos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, na partida contra a Argentina, que valia uma vaga à semifinal, o Brasil foi derrotado por 82 a 77, desperdiçando 12 pontos neste quesito. Splitter perdeu seis nas oito bolas que arremessou. Nenê, outros três. Até o ala Leandrinho, acostumado a ter um bom desempenho, falhou duas vezes nos seus quatro lances. A falta de pontaria no fundamento contribuiu para a traumática eliminação brasileira. 


- Nesses momentos assim que temos que ter o controle, estar com um emocional bom para não perder. Sabemos que lance livre é muito importante, então precisamos estar muito bem para converter esses lances livres e achar esse ponto ideal, do jogador certo, para decidir naquele momento - declarou Huertas.Há quatro anos, ainda pela primeira fase do Mundial da Turquia em 2010, Brasil e EUA se enfrentaram na terceira rodada. Quem ganhasse ficava com a liderança. Favoritos, os americanos viram os brasileiros complicarem a vida e chegarem nos segundos finais dois pontos atrás. Na última bola, Marcelinho Huertas sofreu falta no ato do arremesso e foi bater dois lances livres. Até então, o Brasil vinha com um bom aproveitamento de quatro em seis (66.7%). O próprio armador já havia batido dois e convertidos ambos. Mas desperdiçou o primeiro e foi obrigado a perder o segundo, forçando um rebote ofensivo, que acabou vindo, mas não sendo o suficiente para empatar o jogo. No fim, o castigo com um revés por 70 a 68.

JOGO DENTRO DO GARRAFÃO AUMENTA FALTA EM PIVÔS

Se no passado o Brasil jogava mais em função dos seus alas, o estilo de jogo atual é mais centralizado nos seus pivôs. Em boa fase na NBA, Varejão, Nenê e Tiago Splitter vêm sendo acionados mais constantemente. Para tentar frear o ímpeto do trio dentro da área pintada, os adversários têm cometido mais infrações, levando-os à linha de lance livre. 

Jogadores da posição 4 e 5 (ala-pivô e pivô) têm mais dificuldades em converter esse fundamento se comparados com alas e armadores. Fato que ser apontado como um dos motivos para que o número de erros tenha aumentado durante os últimos jogos em relação ao aproveitamento do time no último Mundial (74.1%) - quinto melhor do torneio - e nos Jogos Olímpicos (62.7%), novamente o quinto, já que Nenê, Varejão e Splitter têm sido vistos constantemente na zona de arremesso.

Basquete Nenê brasil e Argentina Olimpíada de Londres - 08 de agosto de 2012 (Foto: Agência AFP)Nenê em ação na partida contra a Argentina nas Olimpíadas de Londres de 2012.

 

 

Mas não é por falta de treino que os excessos vêm acontecendo. Antes e depois de cada atividade, os atletas costumam praticar o fundamento, em especial Tiago Splitter. Nos dois dias de preparação em Chicago para o confronto com os EUA, a reportagem  acompanhou o pivô dos Spurs na quadra secundária aprimorando seus lances livres que, geralmente, quando não caem, são curtos, parando no "bico" do aro .

- É uma questão de se adaptar um pouco. Tem troca de bola, troca de aro e tudo você tem que ter a confiança necessária para voltar a se sentir bem. Não somos os melhores arremessadores da quadra, os caras grandes, geralmente, são os pequenos. Mas a gente trabalha, treina. Quem fala que não treinamos não sabe o que está falando - justificou.

Na última temporada da NBA, o trio teve um aproveitamento razoável por suas franquias na NBA. O melhor deles foi o pivô dos Spurs, com 69.9%. Defendendo os Cavs, Varejão vem logo atrás, com 68.1%. Já Nenê foi quem apresentou o pior desempenho com 58.3% pelos Wizards.

A partir deste sábado, os jogadores vão mostrar se os lances livres serão vilões ou um adversário superável. Às 13h (Brasília), a equipe verde e amarela estreia na Copa do Mundo contra a França, atual campeã europeia. O duelo em Granada válido pelo grupo A.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jornal Folha do Rio.