Sheik alfineta Assumpção: saideira tem ironias, deboche e propaganda.
16/10/2014 11:36Líder do quarteto demitido pelo presidente do Botafogo, Maurício Assumpção, no início deste mês, Emerson Sheik foi anfitrião na tarde de quarta-feira. O atacante abriu espaço no badalado restaurante do qual é sócio, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, para que ele, Bolívar, Julio Cesar e Edilson falassem pela primeira vez sobre o caso. Tão salgado quando o preço do prato que leva o seu nome no cardápio, o atacante abusou do sarcasmo e do deboche. Também falou sério, como quando relatou que atletas do grupo alvinegro passam fome e pedem dinheiro a companheiros que ganham mais, mas desde a entrada dos quatro no local da entrevista coletiva deixou claro que estava afiado.
– Está lotado hoje, né? Eu gosto assim. Fico empolgado – disse, no início da sua primeira resposta na entrevista coletiva.
Em 57 minutos de perguntas e respostas, Sheik foi quem mais falou. O zagueiro Bolívar não ficou muito atrás, mas manteve o tom sério. Edilson e Júlio ficaram como coadjuvantes, apesar de terem sido duros em vários momentos.
O ex-camisa 7 do Alvinegro carregou durante praticamente todo o tempo da coletiva um sorriso de canto de boca, que se abria com facilidade. Quando não falava, ou digitava no telefone celular ou cochichava no ouvido dos colegas – como no momento em que disse "não vai falar besteira" para Edilson, quando o assunto era o técnico do Flamengo, Vanderlei Luxemburgo. Em quase todas as respostas, distribuiu alfinetadas na direção de Assumpção.
– Não trabalhei com ele, só o vi duas vezes – afirmou, ao comentar a relação quase nula com o mandatário.
Assim como quando postou um vídeo numa rede social dançando funk em sua cobertura na Barra dias depois da demissão, Emerson mostrou-se tranquilo com sua situação. Ao falar da rotina de desempregado – só tem que se apresentar ao Corinthians no ano que vem –, aproveitou para fazer propaganda de seu restaurante.
– Eu estou na praia e à noite venho jantar aqui. Meu restaurante é top. Estão todos convidados.
Ainda que nas entrelinhas, sobrou até para a torcida do Botafogo. Nas respostas iniciais, usou adjetivos como linda e maravilhosa para falar dos botafoguenses. Depois, o tom mudou.
– Fora a história (do clube), que é linda, tem uma torcida não muito grande, mas vibrante, apaixonada. Ela é diferente, leva o público de mais idade ao futebol, aos estádios, resgatando uma paz que hoje em dia já não vemos em outros jogos. Voltaria facilmente a vestir a camisa do Botafogo com uma nova direção, com planejamento.

Assumpção na mira. Sheik também
O mandatário foi alvo quase que exclusivo dos ex-jogadores. Ele vive dias apinhados de crise no clube, mas derradeiros, já que seu mandato termina em 31 de dezembro – o pleito será em 25 novembro. Para Emerson, a saída é motivo de comemoração para os alvinegros.
– Se o próprio presidente assumiu a responsabilidade por tudo o que está acontecendo com o clube, acho que a torcida do Botafogo vai fazer festa, sim.
A entrevista do quarteto foi pouco conclusiva sobre os motivos das demissões. Os jogadores apenas rebateram declarações de Maurício Assumpção.
– Vai continuar papo de maluco para ca...... É isso aí. Ninguém entende nada, não tem o que falar. Não era nem para estarmos aqui hoje. Dessa vez, olha que surpresa, eu não fiz nada (risos).
Mas o jogador também foi alvo. Uma de suas respostas foi interrompida por berros de um rapaz que passava na frente do restaurante, dentro de um carro e com metade do corpo para fora, não parecendo lá muito contente com Sheik.
– Sheik, chinelinho filho da p...!
Emerson sorriu e continuou.
– Eu não posso falar do caráter dele (Assumpção), não tinha relacionamento fora do trabalho. Eu sou a favor de festa para caramba, ele comemorou o aniversário dele, e eu nem sabia da festa dele. Não sei quantos anos o cara tem. Vou saber da festa do Maurício? Deve ser uma galera nada a ver (risos).
O episódio da “vergonha”, em que Sheik atacou a CBF, também foi abordado. Questionado sobre o peso de sua manifestação na decisão de Maurício, salpicou mais uma pitada de ironia.
– Se quiser contratar alguém que não possa falar o que quer, contrata um pastor.
E o tamanho do estrago da atual administração?
– Conhece o Monte Fuji (risos)? – afirmou, citando o ponto mais alto do Japão.
E assim termina a passagem de Emerson Sheik pelo Botafogo. E começa a vida de um, por ora, desempregado. Mas uma coisa é certa: hoje tem praia.
Jornal Folha do Rio.