Seleção brasileira é a que mais muda jogadores entre as campeãs mundiais.
10/06/2016 12:43Não havia nenhum titular do 1 x 7 da Alemanha no 7 x 1 do Haiti. Um fato que pode isentar o atual time, jogar ainda mais peso no de dois anos atrás, mas que, no fundo, só expõe como tem sido difícil para o Brasil dar continuidade a um grupo de jogadores em sua seleção.
Do elenco de 2014 que fracassou contra a Alemanha na semifinal, apenas três estão nos Estados Unidos para a Copa América Centenário – no meio do caminho houve a Copa América do Chile, em 2015. Para muitos que acompanham de perto a Seleção, trata-se da principal causa das frustrações recentes: o Brasil não consegue formar um time coletivamente sólido em razão de recomeços a cada derrota, a cada atuação abaixo da média.

Numa comparação com as outras campeãs do mundo, todas em ação neste meio de ano, em razão da Copa América e da Eurocopa, esse número de três sobreviventes – Daniel Alves, Willian e Hulk – fica ainda mais chocante. A Alemanha, atual campeã mundial, tem 15 atletas de 2014 em seu grupo, mesmo número do Uruguai.

A vice Argentina manteve 11. Itália e Espanha preservaram 13 jogadores, e a Inglaterra 12. As três potências europeias foram eliminadas na primeira fase da Copa no Brasil. E a França, eliminada nas quartas de final, também possui 13 remanescentes.
Numa extensão do problema, o GloboEsporte.com levantou dados de 10 anos para cá. Desde a Copa do Mundo de 2006, passando pelos outros Mundiais e pelos torneios continentais da América do Sul e da Europa. De um torneio para o outro, em períodos curtos, o Brasil repete, em média, apenas 8,5 de 23 convocados.
As duas últimas campeãs do mundo, Alemanha e Espanha, repetem 14 e 15,6, respectivamente. O Uruguai, seleção sul-americana de resultados expressivos nos últimos anos, como a semifinal na Copa-2010, o título da Copa América-2011 e a liderança atual na eliminatória do continente, preserva 16,2 jogadores a cada competição.
A relação entre repetições e resultados não é coincidência. O Brasil anda em círculos. Na atual Copa América, por exemplo, estão de volta jogadores como Paulo Henrique Ganso e Lucas, que disputaram o torneio há cinco anos, e depois ficaram no limbo. Eram jovens reconhecidamente talentosos, mas não resistiram à pressão por resultados que faz a equipe mudar incessantemente.
Casemiro estava na Copa América do ano passado, pelo Porto, e voltou a fazer parte do grupo agora, destaque do Real Madrid. Entre uma competição e outra, não disputou nenhum dos seis jogos nas eliminatórias. Ou seja, a Seleção não acompanhou de perto sua evolução.

Nesses 10 anos, o Brasil teve no comando Carlos Alberto Parreira, Dunga, Mano Menezes, Luiz Felipe Scolari e, novamente, Dunga. Os casos do zagueiro Miranda e do lateral-esquerdo Filipe Luís são emblemáticos. Eles estrearam em 2009, na primeira passagem do atual técnico. Não disputaram as Copas de 2010 e 2014 e nem a Copa América de 2011. Agora, trintões, se tornaram indispensáveis a Dunga, o mesmo que lhes deu oportunidade há sete anos.
Enquanto isso, a Espanha tem quatro jogadores convocados para as três últimas Copas do Mundo e as três últimas Eurocopas: Casillas, Sergio Ramos, Iniesta e Fábregas. Na Alemanha, só Schweinsteiger resistiu, mas a renovação foi feita de maneira muito menos brusca, com poucas mudanças torneio a torneio.
Dunga costuma citar nas entrevistas a dificuldade que o Brasil enfrenta para criar um grupo duradouro, mas acaba colaborando quando enaltece a cultura do resultado que, de fato, predomina no país. Ele mesmo assumiu depois da Copa-2014 e admitiu que precisava, pelo menos no início, manter jogadores que fracassaram para que fossem um alicerce aos novos. Esse alicerce já está praticamente todo desfeito.
O (mais uma vez) renovado Brasil lutará no próximo domingo pela classificação às quartas de final da Copa América Centenário. Em Boston, poderá avançar caso empate com o Peru, mas só uma vitória garante o primeiro lugar sem depender de quantos gols o Equador fará no Haiti. Se o Brasil perder, dependerá do Haiti arrancar um ponto dos equatorianos para se manter na competição e tentar evitar nova reformulação total para os próximos meses.