
Ninguém, nem mesmo Fabricio Werdum, sofreu tanto na semana do UFC 198, em Curitiba. Enquanto o peso-pesado deixou escapar o cinturão da categoria diante do americano Stipe Miocic, seu treinador, Rafael Cordeiro, sofreu um revés muito mais duro: perdeu a mãe, falecida na véspera da pesagem do evento. Em entrevista ao Combate.com em Los Angeles, Cordeiro falou sobre os erros cometidos durante a semana do evento, garantiu que tudo foi discutido na academia e revelou alguns bastidores daquele que considerou o momento mais duro da sua vida.
- Algumas coisas faríamos mais, e outras faríamos menos. Mas isso é coisa que a gente fala na academia, conversa e se acerta ali e já toca o barco pra frente. Quando formos para a próxima luta, iremos melhores. O que eu espero da minha galera é saber que, depois de uma derrota, nossa próxima luta será sempre muito boa. Naquele dia eu sofri duas derrotas: perdi a minha mãe e perdi o cinturão. Quando voltei para a academia era questão de honra mostrar uma pessoa super-forte, um gelo... um iceberg. Por dentro estava com o coração quebrado, mas eles viram que eu estava ali tentando levantar o time. Agora esses caras estão prontos para matar ou morrer pela academia. Eu fiz isso por eles no momento mais duro da minha vida. Deixei minha mãe no hospital no dia da pesagem e no necrotério no dia da luta, para só cremá-la na segunda-feira. Imagina o leão, o general, ter que passar por isso ali e dizer "vamos pra guerra!" Eles viram do que eu sou formado e como a vida me formou. Eu tento passar um pouco dessa experiência para eles. O resultado no geral foi positivo, porque pudemos aprender, que é o que mais interessa.
Para Cordeiro, a marcação da luta entre Werdum e Ben Rothwell no mesmo evento em que Miocic defenderá seu cinturão contra Alistair Overeem, em Cleveland, no UFC 203, dia 10 de setembro, foi positiva. Segundo o treinador, a derrota deu um objetivo extra para o agora ex-campeão.

- Acho que vai ser importante o Werdum lutar logo. Ele quer reconquistar o cinturão, e a derrota deu a ele um objetivo a mais. Ele estava bem como campeão, mas Deus nos tirou o cinturão para que voltasse aquela pilha de pegar de volta. E ele vai conseguir, é questão de tempo. Quando colocaram o nome do Rothwell ele aceitou na hora. E é a luta que a gente quer, porque se dão um adversário não tão bem ranqueado, se você bate é obrigação, e se apanha é o teu fim. O melhor é encarar os caras bem ranqueados até pegar o cinturão de volta. Depois vemos como fazemos, mas por enquanto é pegar geral. Do número um ao número dez, se bater o peso, temos que estar dentro.
O treinador revelou que Werdum já voltou a treinar, e falou sobre a hierarquia da sua academia, a Kings MMA.
- O Werdum já voltou a treinar. Ele estava em Las Vegas fazendo um filme com o Mike Tyson, mas agora a vida segue. Ele já está de volta à academia, vendo onde errou. Eu gosto de treiná-los quando eles erram, porque eles me mostram o que temos que treinar. O Benny (Beneil Dariush) foi bem na luta no UFC 199, mas errou bastante. Vou corrigir o que ele errou. É disso que é feita uma academia. A responsabilidade total de tudo que acontece na Kings MMA é minha. A Kings não é uma academia com vários professores, e cada atleta treina com um professor. Aqui a bronca é comigo, e eu seguro essa bronca, chamo a responsabilidade mesmo, na alegria e na derrota. Se houver um culpado, é comigo a bronca. É assim que eu gosto. Não temos vários professores, mas os que temos são alunos que saíram do mesmo fundamento. A diferença da Kings para as outras é que aqui só tem um comando, e que faz a diferença.