Psicólogo do esporte rebate Dunga: "Ignorância total sobre o assunto".

28/04/2016 15:22

Considerado referência, doutor Renato Miranda classifica como rasa a declaração
do treinador sobre utilização de psicólogos na Seleção: "Precariedade intelectual"

Por Juiz de Fora, MG

 
Renato Miranda, Doutor em Psicologia do Esporte

Para Renato Miranda, passagens recentes da seleção brasileira revelam que há problemas na preparação psicológica dos jogadores. Ele afirmou que é preciso aprender com o que é praticado mundo afora.

– Diversos países fazem isso em vários esportes. Temos que ter discernimento para ver o que está acontecendo. Por isso que atleta fica chorando igual criança na hora do hino, em vez de estar feliz por estar participando de uma Copa. Por isso que na hora do pênalti fica tremendo e chorando – disse.

O professor universitário relatou ainda que a própria figura do técnico também precisa de acompanhamento do profissional.

– A preparação psicológica não é atrelada apenas ao jogador, mas ao técnico também. Como o técnico tem de controlar a ansiedade e o estresse dele quando está no banco, para pensar melhor como chamar a atenção de um jogador ou de outro de maneiras adequadas a cada um, como lidar com a imprensa, com os torcedores – explicou.

Dunga Coletiva Brasil (Foto: Edgar Maciel de Sá)Para Renato Miranda, Dunga deveria se informar antes de falar sobre Psicologia do Esporte (Foto: Edgar Maciel de Sá)

 

 

FORMAÇÃO DOS ATLETAS

Para o profissional, um dos problemas associados a esse despreparo está na formação do jogador brasileiro. Renato Miranda acredita que a formação dos atletas foca apenas nas partes técnica, tática e física, enquanto a psicológica, tão importante quanto as outras, segundo ele, fica de lado.

– As questões cognitivas, mentais e emocionais, que são a matriz do conhecimento da Psicologia do Esporte, são inerentes a qualquer formação de atleta desde a iniciação, como as preparações física, técnica e tática, como força, velocidade, agilidade, resistência. Essas são habilidades físicas, mas também existem habilidades psicológicas, como motivação, capacidade de desenvolvimento da automotivação, controle do estresse, percepção. A coordenação, a força, a velocidade, a resistência, o atleta não treina desde sempre? Então, a parte psicológica também tem de ser assim. Treinar a automotivação, autodisciplina, concentração, desde sempre. Agora, de maneira geral, nosso atleta é muito mal formado – opinou.

A discussão do Dunga tem eco porque ele é o técnico de uma das melhores seleções de futebol do mundo. Só que é de uma precariedade intelectual de dar dó"
Renato Miranda, Doutor em Psicologia do Esporte

Na opinião de Renato Miranda, os próprios treinadores também deveriam ter mais conhecimento de Psicologia do Esporte para desenvolver as equipes.

– Seria ótimo se o técnico tivesse o conhecimento, porque o jogador confia mais. Assim, o treinador poderia passar tarefas para ele fazer no período em que está no clube, associando treinamentos de ordens física, técnica e tática às questões psicológicas. Não dá mais para separar. Está intimamente ligado – disse.

Consultor esportivo do Vôlei Juiz de Fora na Superliga masculina, Renato Miranda afirma que a psicologia pode ajudar os atletas até mesmo na difícil hora da aposentadoria, quando deixam de competir em alto nível e buscam outras alternativas para não se sentirem parados. Segundo ele, a valorização do aspecto psicológico é algo elementar e refletiu sobre os resultados recentes da Seleção.

– Hoje, se um jovem profissional do esporte, ainda no início de carreira, chegar a um clube ou a qualquer instituição e falar que as questões psicológicas são bobagens e não servem para nada, ele está despedido, de tão elementar que é. Talvez seja por isso que o Brasil já perdeu várias Copas que poderia ter ganhado – finalizou.