
A cabeça teima em não relaxar. O sono, que já era pouco, vai rareando na mesma proporção em que o campeonato avança. Bernardinho precisa ter todas as informações do adversário, estudá-los, para que possa encontrar as saídas certas na hora do jogo. Se dormiu pouco durante os nove primeiros compromissos, nos quais o Brasil saiu vitorioso, agora a terceira fase do Mundial da Polônia deverá consumir ainda mais horas dele. Motivos não faltam. Depois de cair no Grupo da Morte no sorteio e ver mudanças no regulamento serem feitas, o técnico precisa bater o time anfitrião, nesta terça-feira, em Lodz. Precisa arrumar a equipe da melhor forma caso Murilo, Wallace e Sidão não possam atuar. Precisa manter o grupo jogando num bom padrão para no dia seguinte encarar novamente a Rússia, atual campeã olímpica.
A partida contra os poloneses, válida pelo Grupo H, será às 15h25 (de Brasília) com transmissão do jornal e cobertura em Tempo Real. Os assinantes podem acompanhar os lances no jornal Os dois melhores de cada chave - na outra estão Irã, Alemanha e França - se classificam para as semifinais.
- Eu durmo pouco. Depende do dia. Duas ou três horas quando tem jogos seguidos para analisar adversários. Conto com a ajuda dos meus assistentes, todos dividem tarefas. Planejo treino, estudo e isso consome muito tempo. O volume de trabalho é grande para pouco tempo. Agora minha preocupação é com a Polônia, com os atletas contundidos, com as carências, com a eficiência do time deles. Se bem que desde 1996, com a lesão da Ana Moser, eu sempre passo por isso na seleção (risos). A Polônia é uma grande equipe, que vem embalada por uma ótima campanha. Está jogando muito bem e tem todas as condições de nos colocar em muita dificuldade. Hoje, é um dos favoritos ao título. Além disso, ainda enfrentamos uma torcida que é apaixonada pelo vôlei. Mas, agora, é mata-mata - disse.
Para tentar amenizar a pressão, o técnico arranja um tempinho para falar com as filhas e mandar mensagens para a mulher, Fernanda Venturini. Vive com fotos delas ao alcance de um toque no celular. Ler algumas páginas de um livro ou fazer algum tipo de exercício físico também ajuda.
- Eu sempre falo com as meninas e converso com a Fernanda. Mas ela é pragmática. Fala assim se perco: perdeu porque jogou mal. E eu fico remoendo mais aquela situação (risos). Correr ou pedalar de madrugada também ajuda a dar uma lavada durante uma disputa dessas. Quando não consigo fazer, me intoxica ficar só no trabalho. Eu venho lendo The Boys in the Boat, sobre a equipe olímpica de remo de 1936, um grupo de jovens remadores de Seattle que formou um time de oito com incrível.
E é exatamente na força do conjunto que Bernardinho vê o ponto alto do Brasil no Mundial. Todas as vezes que precisou trocar uma peça, teve a resposta que esperava.
- Todos entraram bem. Podemos não ser o melhor aqui ou ali individualmente, mas temos um grupo de qualidade. E isso é importante num campeonato longo como este.

Contando com o período de jogos preparatórios, a ausência de casa já chega quase a um mês. Julia e Vitória contam as horas para ter o pai de volta. Já pensam na viagem que vão fazer juntos em outubro para a Disney. A mãe segue fazendo sua parte. Colocou na mala do marido as balinhas de chocolate compradas em Ribeirão Preto que ele tanto gosta. Já foi à igreja pedir por saúde para todos os integrantes da equipe. Torce para que Bernardinho e o enteado (Bruninho) conquistem o inédito tetra, embora tenha dito a eles que não achava o Brasil favorito por ser ainda uma equipe nova. Colocava à frente Rússia, Polônia, Estados Unidos e Itália. Os dois últimos não chegaram à disputa dos triangulares.
- Eu sempre fui muito franca (risos). Este ainda é um ano difícil, mas estamos na torcida. Fui até igreja pedir para que todos vão e voltem bem. Bernardo levou para a Polônia as medalhinhas de santos que umas senhorinhas, fãs dele de Curitiba, deram. Acho que ele está mais calmo nos últimos tempos. Já foi muito mais nervoso. A experiência deu uma acalmada nele, mas a insônia permanece e vai piorando quando vai chegando perto uma final. Ele vai dormir umas 6h da manhã - disse Fernanda.
A ex-levantadora espera que ao término do ciclo olímpico o técnico abra mão da jornada dupla e opte por seguir trabalhando apenas no time feminino do Rio de Janeiro.
- Quando chega perto de um campeonato longo, ele pensa muito se está fazendo a coisa certa. Um dos motivos que o fazem repensar a seleção é ficar tanto tempo fora, ficar em hotel. Ele não está vivendo a melhor fase da vida das filhas. O tempo está passando, e acho que a cada ano que passa está mais próximo de sair. Ele já podia ter feito isso, mas não me ouve (risos). O que o move é a paixão pelo vôlei. Acho que uma medalha de ouro olímpica em 2016 é difícil porque em outros países o vôlei está crescendo melhor do que aqui, mas pode acontecer. Vai ser uma missão de grande responsabilidade, mas torço para que ele tenha uma despedida boa.
