Por amor ao skate, curitibano quebra resistência do pai e se torna prodígio

31/01/2017 12:09

Talento do filho Iago, 3º lugar no Rio Bowl Jam, fez Heitor Magalhães largar vida de vendedor e virar fotógrafo. Início foi às escondidas por intermédio do tio Luiz Gustavo


Iago Magalhães é um dos destaques do evento e sobe ao pódio em terceiro lugar (Foto: AGIF)Iago Magalhães foi um dos destaques do evento e sobe ao pódio em terceiro lugar (Foto: AGIF)

No meio de tantas feras consagradas do skate, como os multicampeões Bob Burnquist e Pedro Barros, um garoto franzino de apenas 19 anos, com sorriso meio tímido, não se intimidou nas disputas do Rio Bowl Jam no Parque Madureira, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Em seu primeiro campeonato após se profissionalizar, Iago Magalhães, curitibano de apenas 19 anos, já deu o que falar e terminou em terceiro lugar. Amantes do esporte e especialistas no segmento já o apontam como um dos nomes que podem surpreender nos últimos anos. No torneio carioca, que abriu a temporada do Mundial de Bowl de 2017, ele deu mostras do que pode vir a fazer.

Sempre descendo a pista em altíssima velocidade, conseguiu levantar o público com suas manobras ousadas, tudo sob os olhares de seu pai, Hélio Magalhães, que no passado chegou a impedir o menino de andar sobre as quatro rodinhas, mas hoje trabalha em prol da carreira do jovem como seu fotógrafo. Iago Magalhães relembra o passado e como começou a andar por intermédio de seu tio Luiz Gustavo, que deu a ele seu primeiro skate.

- Meu tio me deu um skate, e eu ia para a pista com ele escondido do meu pai. Ele trabalhava viajando para todo o lado, e eu quase nunca o via. Ele era vendedor, ficava 21 dias trabalhando e uma semana em casa. Um dia eu virei para ele e falei: "Me leva para andar de skate?". Ele falou: "Você está louco? Você ganhou o skate do seu tio, mas é para andar em casa". Eu insisti muito, e ele acabou me levando. Ele ficou sentado dentro do carro, me lembro até hoje. Eu desci da parede maior, da rampa maior, no Jardim Ambiental, e ele perguntou: "Como assim você sabe andar desse jeito?". Aí contei que meu tio me levava para andar. Foi aí que a história começou mesmo porque ele passou a me levar de vez em quando. Três, quatro anos, lá para uns oito ou nove, ele me perguntou se era o que eu queria, eu disse que sim. Desde então, ele sempre ficou do meu lado. Largou a sua carreira e virou fotógrafo para ficar comigo. Isso foi uma das coisas mais incríveis da minha vida. Ele está do meu lado sempre, se doa por mim e eu amo muito meu pai. Se não fosse ele, eu não estaria aqui hoje andando e dando essa entrevista - comentou.

As quatro rodinhas voaram alto em Madureira no Rio Bowl Jam (Foto: AGIF)Iago Magalhães voou alto em Madureira (Foto: AGIF)

 

O jovem de 19 anos conta que resolveu se profissionalizar após sair campeão de um evento nos Estados Unidos nunca antes vencido por um atleta brasileiro. 

- Me profissionalizei esse ano depois de um 2016 longo com vários campeonatos. Corri o Combi Pool Amador (importante torneio de skate em Orange County, nos Estados Unidos). Fui o primeiro brasileiro a ganhar o amador lá. Depois resolvi me profissionalizar. Passei para pro e, no meu primeiro evento, podia esperar coisa melhor? Terceiro lugar, pódio, ao lado do Pedro Barros e do Ivan Federico com esse calor do Rio, essa galera toda, uma energia incrível em um evento irado. A organização foi animal, todo mundo fez acontecer. Estou sem palavras - falou.

Iago Magalhães demonstrou estar muito contente com o terceiro lugar (Foto: Gabriel Fricke)Iago Magalhães demonstrou estar muito contente com o terceiro lugar (Foto: Gabriel Fricke)

 

Questionado sobre as cobranças e a pressão de se tornar profissional em um esporte onde o Brasil, assim como os Estados Unidos, é uma potência - tanto é que terá, bem como os americanos, 12 vagas na Olimpíada, sendo três para cada naipe (masculino e feminino) em cada uma das categorias escolhidas, Bowl e Park -, ele disse que se cobra mais para acertar as manobras, mas que, como todo brasileiro, nunca desiste.

- Eu acho que todo mundo se cobra. Eu me cobro para acertar as manobras. Todo brasileiro que vai para fora correr campeonato é aguerrido, como Pedro Barros, Murilo Peres Foguinho. Brasileiro é isso, vai para lá e se joga. Eu foco nisso. É Brasil no peito para sempre - relatou.

Mesmo sendo um nome promissor do esporte, Iago Magalhães pode não participar do processo olímpico para Tóquio 2020. Assim como Pedro Barros, Ítalo Penarrubia, Nilo Peçanha e cia., o jovem falou que irá aderir ao possível boicote à Olimpíada caso o Comitê Olímpico do Brasil (COB) não aceite o pedido de filiação da Confederação Brasileira de Skate (CBSk), tida pelos atletas como a entidade que deve regular o processo olímpico. 

- Uma coisa muito boa que a gente teve foi do skate virar olímpico. Eu participaria se a CBSk estivesse no comando do skate. Como está sendo o pessoal do hóquei sobre patins, se eu for chamado, não correrei. Se isso mudar, eu tenho muita vontade de participar. Se não for a CBSk e me convidarem, vou negar - opinou.

No momento, o COB está dando prosseguimento à filiação da Confederação Brasileira de Hóquei sobre Patins (CBHp), o que está revoltando os skatistas. Pela regra, o COB só pode filiar entidades reconhecidas por Federações Internacionais que são filiadas ao Comitê Olímpico Internacional (COI). Como a CBSk é filiada à International Skateboarding Federation (ISF), que não é ainda reconhecida pelo COI, e a CBHp é filiada à Federação Internacional de Roller Sports (FIRS), reconhecida pelo COI, o COB está filiando a CBHP no momento, mas, em comunicado oficial, disse que pode haver diálogo para entendimento entre as duas partes.

Classificação final do Rio Bowl Jam:

1º - Pedro Barros (BRA) - 95 pontos;
2º - Ivan Federico (ITA) - 90,33 pontos;
3º - Iago Magalhães (BRA) - 87,67 pontos;
4º - Murilo Peres (BRA) - 84,67 pontos;
5º - Rony Gomes (BRA) - 83,33 pontos;
6º - Josh Borden (EUA) - 82,33 pontos;
7º - Danny Leon (ESP) - 82,33 pontos; 
8º - Ítalo Penarrubia (BRA) - 69,33 pontos

Como funcionou a fase final?

- 01 bateria de 08 skatistas;
- 03 voltas alternadas. Vale a melhor volta;
- Tempo máximo de cada apresentação será de 45 segundos;
- Vale a melhor volta;
- Se o competidor errar alguma manobra antes dos 45 segundos, sua volta acaba ali.