O delegado da 35ª DP (Campo Grande), Hilton Alonso, afirmou nesta sexta-feira (19) que outra testemunha prestou depoimento sobre o desaparecimento de Jandira Magdalena dos Santos Cruz, de 27 anos, após ir para uma clínica de aborto na região. O depoimento foi prestado na noite desta quinta-feira (19). Segundo Hilton, a mulher estava no mesmo carro em que Jandira foi para a clínica no dia do desaparecimento.
Em depoimento, a mulher, que tem a identidade mantida em sigilo pela polícia, reconheceu Rosemere Aparecida Ferreira, acusada de organizar clínicas de aborto móveis, Vanusa Baldacine, que dirigia o carro, e o falso médico acusado de realizar os procedimentos, Carlos Augusto Graça de Oliveira, atualmente foragido. Ela também reconheceu Mônica Gomes Teixeira, que recepcionava os clientes. O único dos cinco membros da quadrilha que tiveram a prisão temporária pedida que a testemunha não reconheceu é Marcelo Eduardo Medeiros, que alugava a casa.
De acordo com o delegado, o caso é bastante parecido com o de Jandira: o ex-namorado dessa testemunha a levou para o carro em que seriam levadas para a clínica, tal qual fez Leandro Reis, ex-marido de Jandira, que a levou para o carro dirigido por Vanusa. A testemunha tentou fazer o aborto no dia 27 de agosto, mas afirmou que não havia dilatação necessária. Ela iria voltar em outra data, mas desistiu do procedimento poucos dias depois.
Vanusa fala
Em depoimento à Polícia Civil após se entregar na 35ª DP, Vanusa Baldacine afirmou que Jandira Magdalena dos Santos, de 27 anos, morreu durante o procedimento de aborto. Vanusa afirmou que apenas levou Jandira em seu carro até a clínica. O advogado de Vanusa Baldacine, Juarez Andrade, afirmou que entrou com um pedido de habeas corpus para sua cliente.
Segundo Juarez Andrade, a prisão temporária de 30 dias pedida pela Justiça não se justifica no caso de Vanusa, que se entregou espontaneamente na segunda-feira (15).
"A prisão de inquérito só é cabível acima de 30 dias em caso de crimes hediondos. As investigações apontam não um homicídio, mas um aborto que teve como consequência uma morte. O aborto seguido de morte não é um crime qualificado que peça a prisão por 30 dias", argumentou o advogado.
"Vanusa é clara ao dizer que quem ligou para ela foi Rosemere", afirmou o advogado. Vanusa se entregou na última segunda-feira (14) e no dia seguinte, em sua casa, foi encontrada farta munição, além de uma espingarda.
Juarez, no entanto, afirma que há contradições entre os depoimentos de Vanusa e de Rosemere Aparecida Ferreira que seria chefe da quadrilha e foi presa no dia 11 de setembro. Em depoimento mostrado no Fantástico do último domingo (14), Rosemere havia dito que Vanusa ligou para ela avisando que houvera "uma complicação no procedimento".
Além de Rosemere e Jandira, estão presos também Marcelo Eduardo Medeiros, que alugava a casa para a clínica, e Mônica Gomes Teixeira, que recepcionava as clientes. O falso médico Carlos Augusto Graça de Oliveira, que também teve prisão temporária decretada, segue foragido.
Segundo a investigação policial, Rosemere organizava clínicas de aborto móveis, mudando o local da prática de tempos em tempos. De acordo com o juiz que proferiu a decisão, a custódia se faz necessária para garantia da ordem pública, diante da reiteração criminosa da quadrilha.
“A prisão é imprescindível para a conclusão do inquérito, a fim de que as novas oitivas sejam efetivadas em cotejo com os demais elementos que já estão e os que virão aos autos, em especial o encontro do corpo da vítima, já que o homicídio é a hipótese mais provável até aqui”, disse o juiz na decisão.
Segundo o delegado Hilton Alonso, o médico Carlos Augusto já tem várias passagens pela polícia por práticas de aborto, exercício ilegal da medicina e falsidade de documentos.
Jornal Folha do Rio.
