Peter toca projeto de cisão no Flu para implantar a gestão futebol-empresa.

24/10/2014 13:04
 
Peter Siemsen Presidente Fluminense (Foto: Richard Souza)Peter Siemsen estuda transformar o Fluminense em futebol-empresa a partir de 2015.

Está em curso no Fluminense o projeto de mudar o modelo de gestão do clube. O presidente Peter Siemsen é o responsável e pretende separar o futebol da parte olímpica e social. É o caminho para começar a transformar o Tricolor em empresa. O mandatário quer lançar a ideia entre março e maio do ano que vem para que ela seja aprovada no segundo semestre de 2015, o penúltimo ano do seu segundo mandato. Por ora, ele evita se aprofundar no tema e fala com cautela sobre o assunto.

- Tenho a ideia e estamos estudando e trabalhando, mas ao mesmo tempo me envolvi com a questão fiscal. Se não resolver essas coisas, não posso propor nada. O caminho de ter um modelo de gestão de empresa, não necessariamente vai constituir empresa. Constituir empresa é uma mudança grande, importante, para o mercado brasileiro um dia - disse ao GloboEsporte.com.

Segundo a reportagem apurou, a medida está em estágio avançado. Peter aposta na cisão do clube esporte olímpico e social como ponto de partida para tentar organizar o Fluminense. Ele é entusiasta do modelo praticado na Europa: o clube e a associação têm 51%, o restante está dividido entre os patrocinadores. O Tricolor passaria a ter investidores na gestão de futebol, com assento no Conselho de Administração, como acionistas e com participação em decisões. 

 
É importante separar para que o Fluminense tenha o perfil do Inter no futebol, e o modelo olímpico trabalhe incentivado, como Minas Tênis Clube, Pinheiros, sem o risco de o futebol numa crise acabar, por exemplo, com as CNDs"
Peter Siemsen

 - Futebol-empresa é o que existe em 95% da Europa. Isso é uma constatação, e o mercado brasileiro ainda é o modelo da década de 80 da Europa. A questão do futebol-empresa tem que ser pensada para o mercado brasileiro como opção. Se for uma opção, aí o Fluminense tem interesse. Mas hoje, com a lei como ela é, impõe custo tributário muito grande para a empresa em comparação com a associação desportiva. 

Conforme o GloboEsporte.com apurou, Peter contratou um escritório para elaborar o projeto de separação e montá-lo com as adequações jurídicas necessárias. O clube precisa, por exemplo, conseguir as certidões negativas de débito (CNDs), que representam o equacionamento das dívidas fiscais nas esferas dos Governos Federal, Estadual e Municipal. O futebol-empresa ficaria com dívidas e imóveis. Já a parte social ficaria para uso do clube social e olímpico.

-  O esporte olímpico tem uma estabilidade de funcionamento muito maior. Hoje, trabalha basicamente com CNDs, usando a certidão negativa de dívidas fiscais para captar recursos através de projetos incentivados. O clube esporte olímpico é atender quem mora no bairro, é o bem estar do sócio. Futebol é um negócio completamente diferente. Quando mistura, é mais difícil fazer uma gestão boa e organizada. Inter e Grêmio não têm mais esporte olímpico. A capacidade do Inter de gerar receita é um sucesso muito grande. Mas o Fluminense tem histórico, tradição, capacidade de esporte olímpico muito forte. É importante separar para que o Fluminense tenha o perfil do Inter no futebol, e o modelo olímpico trabalhe incentivado, como Minas Tênis Clube, Pinheiros, sem o risco de o futebol numa crise acabar, por exemplo, com as CNDs. O esporte olímpico pode sobreviver com orçamento. O futebol, não.

Resistência interna pode levar a nova assembleia geral

A reportagem apurou ainda que internamente há resistências em relação ao projeto de Peter. Em casos como esse, a aprovação depende de votação dos sócios em assembleia geral, como a que ocorreu no fim de 2012 com o plano sócio-futebol. 

- Estamos formulando uma proposta, temos conversado bastante com o esporte olímpico, social, para encontrar uma forma para que eles tenham benefício grande na separação, para que possam ter CNDs, possam se planejar. Olímpico e social não podem defender do sucesso ou insucesso do futebol. 


- Se conseguirmos encontrar um modelo seguro, do ponto de vista jurídico, viável, do ponto de vista econômico, e que atenda aos anseios dos sócios, acho que vale a pena. Em entrevista ao programa “Arena SporTV” no mês passado, Peter discorreu sobre o tema, mas sem citar o projeto. O formato europeu é o exemplo, com criação de cotas para investidores do futebol fora do quadro social para gerar receitas. Os detentores das cotas passariam a controladores do futebol, com o clube sendo dono de 51% das cotas sem a perda da identidade.

O Fluminense é patrocinado pela Unimed desde 1999, quando o time estava na Série C do Campeonato Brasileiro. Desde então, o clube contratou jogadores como Romário, Edmundo, Fred, Darío Conca, Emerson Sheik, Deco, Diego Cavalieri, entre outros. Reforços com a maior parte do salário paga pela cooperativa de médicos. Neste período, o Tricolor conquistou uma Copa do Brasil (2007), dois Campeonatos Brasileiros (2010 e 2012) e três Cariocas (2002, 2005 e 2012), além de um vice-campeonato na Libertadores (2008) e na Sul-Americana (2009). O contrato com a parceira vai até o fim de 2016, mas a cada virada de ano é reavaliado e pode até ser rompido. Novembro será o mês da rediscussão do vínculo, e a tendência é de manutenção.

Publicamente, Celso Barros tem tratado a continuidade como incerta. Ao responder sobre renovações de jogadores que têm a maior parte do salário paga pelo patrocinador, colocou a parceria em xeque e frisou que o investimento no clube será reduzido. O Fluminense, por sua vez, confia na manutenção do patrocínio, mas sabe que o ano de 2015 pode ser de vacas magras. A Unimed passa por dificuldades financeiras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jornal Folha do Rio.