Novo chassi a partir do GP da Rússia pode significar recomeço para Nasr.

28/04/2016 15:17

Em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com em Sochi, brasileiro da Sauber explica dificuldade de pilotar com chassi defeituoso: "A pior sensação é nas freadas fortes"


Livio Oricchio - Especialista GloboEsporte.com (Foto: GloboEsporte.com)

Os integrantes da equipe Sauber trabalham criteriosamente, nesta quinta-feira, na montagem do novo carro de Felipe Nasr nos boxes do Autódromo de Sochi. Amanhã, a partir das 4 horas, horário de Brasília, começam os treinos livres do GP da Rússia, quarta etapa do campeonato. Depois de um início de temporada promissor, no ano passado, na sua estreia na F1, Nasr enfrenta agora dificuldades. O novo carro é uma tentativa de reverter a situação.

Na Austrália, largou em 17º e recebeu a bandeirada em 15º, uma volta atrás do vencedor das três etapas este ano, Nico Rosberg, da Mercedes. Em 2015, começou a corrida na 11ª posição no grid e terminou em brilhante quinta colocação. Na segunda etapa, na Malásia, em 2015, era o 16.º no grid e acabou em 12º. Este ano, no segundo GP do calendário, em Bahrein, Nasr começou a prova em último, 22º, e foi 14º, com uma volta a menos. Na China, terceira etapa, em 2015, foi 9º no grid e ótimo 8º no domingo, enquanto dia 17, agora, em Xangai, se classificou em 16º no sábado e ficou em 20º na corrida.

Felipe Nasr no GP da China de F1 (Foto: Getty Images)Felipe Nasr ganhará novo chassi a partir do GP da Rússia (Foto: Getty Images)

De um ano para o outro Nasr saiu da possibilidade de marcar pontos regularmente, apesar de ser o seu primeiro na F1, como os 14 somados em três provas, a não ter perspectiva alguma, com o atual modelo C35-Ferrari, de terminar entre os dez primeiros. Tudo isso numa temporada de afirmação na F1.

Com muitos contratos prestes a acabar, como o de Rosberg, Kimi Raikkonen, na Ferrari, Felipe Massa, Williams, Kevin Magnussen e Jolyon Palmer, Renault, Jenson Button, McLaren, dentre outros, Nasr não consegue expor seu talento. O companheiro de equipe, o sueco Marcus Ericsson, também não marcou pontos ainda e em 2015 já tinha 5, de um 8º lugar na Austrália e um 10º na China.

Nessa entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com, em Sochi, Nasr fala do seu momento difícil na F1 e, principalmente, sobre o que está fazendo para mudar o quadro preocupante.

GE – Você começa o GP da Rússia com um chassi novo, o que isso pode representar?

FN – Eu tenho aqui em Sochi, na realidade, um monocoque novo (a estrutura central de um carro de F1, onde depois são “encaixados” a suspensão dianteira e todo o conjunto traseiro, unidade motriz, transmissão e suspensão). As peças do carro que vinha usando estão sendo repassadas para esse monocoque novo. É uma medida que tomamos para tentar solucionar os problemas que enfrentei nas três primeiras etapas com o chassi usado, o número 2. Vamos ver como será o fim de semana. Não estou dizendo que com isso resolvemos o problema.

Felipe Nasr no GP da China de F1 (Foto: Getty Images)Felipe Nasr no GP da China de F1 (Foto: Getty Images)

GE – Qual sua maior dificuldade até agora com o carro usado na Austrália, em Bahrein e na China?

FN – Antes de mais nada é preciso entender que nosso time concluiu a montagem dele, o de número 2, lá na Austrália. O chassi que usamos nos testes de Barcelona, o número 1, ficou com o Ericsson. A pior sensação é nas freadas fortes e temos muitas a cada volta na F1. Há grande instabilidade na parte traseira do carro. Eu fico o tempo inteiro brigando com ele. Procuramos encontrar o equilíbrio de todas as maneiras e não conseguimos, quer para uma volta lançada, na classificação, ou para a corrida. Obviamente isso gera um desgaste maior dos pneus, os meus acabam logo, sou obrigado a fazer um pit stop a mais.

GE – Como a falta de recursos da Sauber interfere na solução desse problema?

FN – Para tentar resolver você tem de verificar cada componente do conjunto mecânico, eletrônico, hidráulico, aerodinâmico, trocar peças, mas para isso é necessário dispor de recursos e nós não os temos. É simples entender. Esse chassi número 2 me passa uma sensação estranha, pior da que tinha ao pilotar o carro do ano passado. Suas reações são diferentes das que senti nos testes de Barcelona este ano também com o chassi número 1.

Felipe Nasr e Marcus Ericsson no GP do Japão de 2015 (Foto: Getty Images)Ericsson usa o chassi número 1, feito para os testes de pré-temporada. Nasr usa o 2, montado na Austrália (Getty Images)

GE – A imprensa russa publicou que o seu companheiro propôs a troca de carro. Você ficaria com o dele e ele com o seu. Como viu a iniciativa?

FN – É engraçado. Eu dei uma entrevista para o site "Motorsport" russo e falei em tom de brincadeira ao repórter para ele perguntar ao Ericsson se ele aceitava trocar o chassi comigo. Falei veja lá o que ele acha. De forma alguma partiu do Ericsson a iniciativa, como saiu escrito, ele não diria isso. (Ericsson não tem enfrentado, com o chassi número 1, as mesmas dificuldades de equilíbrio de Nasr com o chassi número 2.)

GE – Nem todo torcedor brasileiro acompanha a F1  de perto e, por isso, não tem consciência dos seus problemas com o carro. O que aparece é que aquele piloto jovem que estreou na F1 de modo arrebatador, em 2015, e nas corridas seguintes comprovou ser talentoso hoje não está aparecendo mais. Como lida com isso?

FN – Estou fazendo o meu trabalho. Estou superconsciente de que toda vez que entro na pista faço o meu melhor com o que disponho nas mãos. Tenho certeza de que quando sair desse momento estarei mais forte. Estou aprendendo muita coisa com isso tudo. Minha mensagem à torcida é essa, não posso me preocupar com as coisas que não tenho como controlar. O que preciso fazer é ajudar o máximo possível achar a solução desses problemas e temos, agora, uma maior chance, com o terceiro chassi.

GE – Como é vir para as corridas visando, ao menos até agora, não ocupar as últimas colocações, diferentemente de 2015?

FN – É um desafio. Esses instantes dão, por outro lado, a oportunidade de me aprofundar ainda mais no trabalho, tentar descobrir como extrair mais de mim mesmo. Nas dificuldades extremas, se você as encara da melhor maneira possível enxerga ensinamentos grandes, estou sentindo isso. Como falei, a hora que as coisas voltarem ao normal eu vou ser mais forte.

Felipe Nasr no Gp do Bahrein F1 2016 (Foto: Getty Images)Felipe Nasr afirma que chassi defeituoso atrapalha em frenagens mais fortes (Foto: Getty Images)

GE – Não te preocupa o fato de você ter saído dos holofotes nesse início de temporada, num ano em que passar para uma melhor equipe será fundamental, diante da mudança severa do regulamento, em 2017?

FN – Quem realmente entende de F1 sabe o que está acontecendo. Essa falta de resultados não interfere em meu futuro, ele é totalmente independente do meu momento.

GE – Você é patrocinado pelo Banco do Brasil. Eles estão preocupados com o que se passa?

FN – Meu contrato com eles é de dois anos, a temporada passada e esta. Eles não interferem em nada. (Nasr e Massa não têm, ainda, nenhum compromisso assinado com suas escuderias, ou outras, para 2017. Em outras palavras, o Brasil não tem, por enquanto, piloto no grid. Mas as perspectivas são boas. No caso de Massa, ele tem a seu favor o belo campeonato que disputa, mais eficiente que Valtteri Bottas, parceiro de Williams, nas três provas realizadas este ano. E quanto a Nasr, o grande potencial demonstrado em 2015, apesar das limitações da Sauber.)

GE – Com os problemas financeiros da Sauber, permanecer na escuderia, em 2017, será arriscado. Se o time não tem como manter o projeto atual como vai fazer para estudar, projetar e construir, ao mesmo tempo, o complexo carro do ano que vem, com a revisão conceitual em curso?

GE – A diferença entre as equipes pequenas e as grandes vai crescer bastante em 2017. Não há como uma equipe como a nossa manter o foco em dois projetos. Meu empresário (Steve Robertson) está batalhando, vendo as opções que temos, aqui ou em outro lugar. (Há uma tendência de tudo ser definido mais cedo, este ano, em razão de os times precisarem começar a se preparar bem antes do usual por conta de os carros serem muito distintos no ano que vem, mais largos e rápidos.)

INFO Circuitos Horários Rússia 2 (Foto: Editoria de Arte)