Mineirinho tenta bi em Margaret River, e WSL testa proteção contra tubarões.

07/04/2016 10:21

Nenhum surfista poderá tirar a lycra amarela de Matt Wilkinson na terceira e última etapa da perna australiana do Circuito Mundial, em Margaret River. Campeão das duas primeiras etapas, o australiano é o líder isolado do ranking mundial, com 20.000 pontos, e será o homem a ser batido, ao lado de Adriano de Souza, atual campeão mundial e defensor do título no local. Em um território selvagem e de clima frio, será testada pela primeira vez uma tecnologia de proteção aos surfistas contra tubarões, com sonares instalados nos jet skis. Embora nunca tenha havido na competição uma ameaça como a sofrida por Mick Fanning em Jeffreys Bay, na África do Sul, a região tem um histórico preocupante. Por isso, a etapa é uma das mais perigosas do Tour. A chamada para avaliar as condições para o primeiro dia de disputas será nesta quinta-feira, às 20h (de Brasília). A janela se encerra no dia 19 de abril. 

- Não temo os tubarões ali. Pelo menos, nunca tivemos problemas até agora. A WSL (Liga Mundial de Surfe) continua trabalhando desde o incidente com o Mick, e as medidas que eles acharem cabíveis acredito que tanto nós quanto vocês saberão na mesma hora - afirmou Mineirinho. 

Adriano de Souza é carregado após título em Margaret River, na Austrália (Foto: WSL / Kirstin scholtz)Adriano de Souza é carregado após título em Margaret River, na Austrália, no ano passado (Foto: WSL/Kirstin scholtz)

Apesar de ter desistido do polêmico projeto de extermínio dos predadores, em 2014, o governo do estado da Austrália Ocidental autoriza a população a matar os grandes tubarões quando o risco é iminente. No ano passado, pôde se notar uma mancha escura no mar, provavelmente, um tubarão branco, em algumas baterias, como a de Gabriel Medina. Nesta temporada, cada surfista terá um jet ski para a sua segurança. Como a distância entre a arrebentação e o local onde os surfistas pegam as ondas é longe, os competidores não precisam remar durante o percurso e podem contar com o auxílio das motos aquáticas para evitar um encontro indesejável com um tubarão. É o que conta Graham Stapelberg, diretor internacional de eventos da WSL. 

- Nós contratamos dois diferentes consultores para tratar da questão do risco de ataques. Um na Cidade do Cabo, na África do Sul, que tem nos enviado uma análise completa sobre a segurança em Jeffreys Bay, com relatórios e recomendações... E um engenheiro para Margaret River. Teremos nos jet skis uma tecnologia de sonar para detectar possíveis ameaças de tubarões. Cada um dos surfistas terá um jet ski à sua disposição, monitorando tudo e com um sistema de rádio para comunicação. Se houver algum perigo, vamos reagir imediatamente. É a primeira vez que vamos usar este sistema em Margaret River, uma etapa que colocamos na categoria de alto risco. Mas também temos o mesmo plano e estratégia para J-Bay - explicou Stapelberg. 

Margaret River é o palco da terceira etapa do Circuito Mundial de Surfe em 2015 (Foto: Reprodução/Twitter)Margaret River é o palco da terceira etapa do Circuito Mundial de Surfe em 2016 (Foto: Reprodução/Twitter)

WILKO É Nº 1 ATÉ O RIO DE JANEIRO

Em sete temporadas na elite, Matt Wilkinson nunca havia vencido uma etapa do Circuito Mundial até este ano. O australiano de Copacabana, nos subúrbios da Costa Central, em New South Wales, entrou renovado em busca do tão sonhado título. Abandonou o visual irreverente e as roupas de estampas inusitadas e viu brotar um espírito competitivo que até então não conhecia, mesmo sem entender ao certo qual elemento o colocou no caminho das vitórias, seja a mudança na mentalidade, os exaustivos treinos ou o trabalho com o novo treinador, Glenn Hall. Depois de se aposentar do surfe no Pipeline Masters, no Havaí, em dezembro do ano passado, o irlandês tem feito um trabalho irretocável como técnico, tanto com Matt, como com Tyler Wright, que disputa o circuito feminino.  

Eu não queria encerrar a minha carreira e fiquei pensando no que eu poderia fazer para melhorar. Tenho trabalhado em uma série de coisas. Se você conseguir melhorar 10% em 10 diferentes partes, você será um surfista 100% melhor. Quero deixar rolar. Eu amo "West Oz"  
Matt Wilkinson, o Wilko

Wilko passou a ganhar baterias e a manter a regularidade até o alto do pódio, sem se deixar abalar pela pressão de ser o atual líder do ranking. Pelo contrário, a lycra lhe fez bem. As vitórias consistentes na Gold Coast e em Bells Beach o deixaram na liderança isolada do ranking mundial, com 20.000 pontos. Ele assegurou a ponta não só em Margaret River, como até a quarta etapa, no Rio de Janeiro, de 10 a 21 de maio. 

- Eu não queria encerrar a minha carreira e fiquei pensando no que poderia fazer para melhorar. Tenho trabalhado em uma série de coisas. Se você conseguir melhorar 10% em 10 diferentes partes, você será um surfista 100% melhor. Quero deixar rolar. Eu amo "West Oz" (Oeste da Austrália) - contou Wilkinson, que começou o ano sendo campeão do QS 6.000 de Newcastle, na Austrália. 

Matt Wilkinson toca pela primeira vez o sino (troféu do evento) em Bells Beach (Foto: WSL / Ed Sloane)Líder isolado do ranking, Matt Wilkinson ganhou duas únicas etapas do ano: Gold Coast e Bells Beach (Foto: WSL/Ed Sloane)

 

O australiano só perdeu uma bateria esse ano, para Wiggolly Dantas, na quarta fase em Bells Beach. Por pouco, não caiu de novo para o paulista de Ubatuba nas quartas de final. Se salvou com uma onda no estourar do cronômetro (7.43) para vencer por 13,26 a 12,00 pontos. Em seguida, se recuperou e dominou os seus confrontos, deixando os rivais em combinação. Foi assim com o potiguar Italo Ferreira, na semifinal, e na decisão contra o sul-africano Jordy Smith. Matt passou anos como coadjuvante de uma equipe que tem nomes como Mick Fanning e Gabriel Medina e admite que duvidou de si mesmo, mas, este ano, resolveu virar protagonista. 

- Eu sempre tentei ganhar em todos os lugares, mas nunca aconteceu. Este ano parece que estou conseguindo pegar os troféus que sempre quis, então, estou muito feliz por ter vencido aqui em Bells. Eu venho para esse evento há tanto tempo, sempre quis ganhar e finalmente tive a minha chance - contou Wilko, depois de faturar o segundo título consecutivo na temporada.

Adriano de Souza Mineiro campeão Margaret surfe (Foto: Divulgação/WSL)Adriano de Souza Mineiro campeão Margaret surfe (Foto: Divulgação/WSL)

 

Uma das ameaças ao número um do mundo será o local Jack Robinson. Convidado do evento, o surfista de 18 anos foi um dos destaques da temporada de inverno em Teahupoo, no Taiti, e Pipeline, no Havaí, e foi indicado pelos comissários da Liga Mundial de Surfe (WSL). Ele poderá entrar na bateria de Gabriel Medina ou Mineirinho. O outro wildcard será definido em uma triagem para o evento principal. 

Este começo de ano tem sido muito interessante e mostrou que qualquer um pode vencer qualquer um. Eu amo vir ao Oeste da Austrália e gosto muito de surfar em todos os picos que estão disponíveis para o evento. Tomara que as condições estejam ótimas" 
Adriano de Souza, atual campeão mundial e defensor do título em Margaret River

- Me sinto muito privilegiado por ter sido escolhido. Mal posso esperar para ver o show começar e estou com ótimas expectativas, considerando os outros locais disponíveis para a disputa este ano - afirmou Jack Robinson. 

Mais uma vez, o palco principal será em Main Break, onde Mineirinho sagrou-se campeão, na temporada passada. Em um dia de ondas pesadas, o paulista do Guarujá teve uma vitória contundente sobre o havaiano John John Florence, por 17.53 a 16.87. O pico alternativo, no entanto, foi um espetáculo à parte. A onda perigosa e tubular de The Box, que quebra sobre uma rasa laje de pedras, fez os surfistas irem do sonho em tubos perfeitos ao pesadelo em vacas dolorosas. Situação que poderá ser vista novamente neste ano. A novidade serão as direitas de North Point, outra opção para os organizadores do evento. 

- São dois picos bem diferentes e que podem se alternar a qualquer momento. The Box é uma onda muito difícil e lembro que, antigamente, eu deixava de treinar em Main Break para me aprimorar lá. Nos últimos anos tivemos altas ondas e espero me entender com elas novamente neste ano - contou Adriano de Souza. 

Adriano de Souza Mineirinho Margaret River mundial de surfe (Foto: Divulgação/WSL)Mineirinho dominou as ondas de The Box (foto) e Main Break em Margaret (Foto: Divulgação/WSL)

Mineirinho, que teve uma precisão quase cirúrgica nas diferentes ondas de Margaret, ocupa atualmente a décima posição no ranking e espera repetir o feito da temporada passada. 

- Foi um evento difícil no ano passado, pois passei pelas duas repescagens, peguei o Kelly nas quartas em uma bateria dificílima, peguei o Taj depois e na final o John John. Derrotei alguns dos melhores do mundo ali. Foi um dos pontos altos junto com Pipeline - disse. 

O Brazilian Storm terá nove representantes na terceira etapa da perna australiana. A disputa será marcada pelo retorno de Alejo Muniz. O argentino de Mar Del Plata, criado nas ondas de Bombinhas, no litoral catarinense, retorna após um longo período fora de combate. Ele sofreu uma lesão no ligamento colateral do joelho esquerdo durante a etapa francesa e se submeteu a uma cirurgia em outubro do ano passado. O aussie Jack Freestone machucou a perna na Gold Coast e também volta a competir. 

Ainda em recuperação de uma lesão no fêmur esquerdo e em um músculo da virilha, Filipe Toledo continua fora e só volta no Rio de Janeiro. Outras baixas são os australianos Owen Wright, por conta de uma concussão na cabeça nos treinos para o Pipeline Masters, em dezembro, e Bede Durbidge, com um lesão no quadril em uma vaca também sofrida no North Shore de Oahu. Mick Fanning é outro desfalque. Após um ano traumático, em que escapou ileso de um ataque de tubarão na final em Jeffreys Bay, precisou lidar com a morte do irmão durante o Pipeline Masters e ainda terminou o seu casamento, o tricampeão mundial só volta a competir em J-Bay, de 6 a 17 de julho. Os substitutos são Adam Melling, Stuart Kennedy, Sebastian Zietz e Dusty Payne.

BATERIAS DA 1ª FASE EM MARGARET RIVER

1: Jeremy Flores (FRA), Taj Burrow (AUS), Alejo Muniz (BRA)
2: Julian Wilson (AUS), Kai Otton (AUS), Alex Ribeiro (BRA)
3: Matt Wilkinson (AUS), Stuart Kennedy (AUS), Adam Melling (AUS)
4: Italo Ferreira (BRA), Kanoa Igarashi (EUA), Dusty Payne (HAV)
5: Gabriel Medina (BRA), Davey Cathels (AUS), a definir
6: Adriano de Souza (BRA), Keanu Asing (HAV), a definir
7: Jordy Smith (AFS), Michel Bourez (TAH), Jack Freestone (AUS)
8: Nat Young (EUA), Caio Ibelli (BRA), Matt Banting (AUS)
9: Joel Parkinson (AUS), Conner Coffin (EUA), Ryan Callinan (AUS)
10: Kelly Slater (EUA), Kolohe Andino (EUA), Miguel Pupo (BRA)
11: John John Florence (HAV), Adrian Buchan (AUS), Sebastian Zietz (HAV)
12: Wiggolly Dantas (BRA), Josh Kerr (AUS), Jadson Andre (BRA)

CONFIRA O TOP 10 APÓS BELLS BEACH

1: Matt Wilkinson (AUS) - 20.000 pontos
2: Conner Coffin (EUA) - 9.200
3: Jordy Smith (AFS) - 8.500
3: Kolohe Andino (EUA) - 8.500
5: Mick Fanning (AUS) - 8.250
5: Italo Ferreira (BRA) - 8.250
5: Stuart Kennedy (AUS) - 8.250
8: Caio Ibelli (BRA) - 8.000
9: Filipe Toledo (BRA) - 7.000
10: Adriano de Souza (BRA) - 6.950

10: Nat Young (EUA) - 6.950
10: Joel Parkinson (AUS) - 6.950
10: John John Florence (AUS) - 6.950
10: Wiggolly Dantas (BRA) - 6.950
10: Adrian Buchan (AUS) - 6.950
10: Michel Bourez (TAH) - 6.950

OUTROS BRASILEIROS NO RANKING

22: Gabriel Medina (BRA) - 3.500
23: Jadson André (BRA) - 2.250
23: Miguel Pupo (BRA) - 2.250
33: Alex Ribeiro (BRA) - 1.000
33: Alejo Muniz (BRA) - 1.000

BRASILEIROS EM BELLS BEACH

3º - Italo Ferreira - Baía Formosa (RN)
5º - Wiggolly Dantas - Ubatuba (SP)
9º - Caio Ibelli - São Paulo, radicado no Guarujá
13º - Miguel Pupo - Itanhaem (SP)
13º  - Adriano de Souza - Guarujá (SP)
13º - Gabriel Medina - São Sebastião (SP)
25º - Alex Ribeiro - Praia Grande (SP)
25º - Jadson André - Vila de Ponta Negra, Natal (RN)