Mexicanos buscam superar atraso no MMA e formar campeões em 2 anos.
12/11/2014 13:34Sede do UFC 180 do próximo sábado, o México é um país de luta em muitos sentidos. Tanto nos esportes de combate não-armado, onde formou inúmeros campeões de boxe, taekwondo e luta livre, quanto no sentido da luta pelos direitos do povo, com uma rica história de movimentos revolucionários. Todavia, essa tradição ainda não se traduziu ao MMA, onde seus principais representantes são lutadores americanos com ascendência mexicana. Com os olhos do mundo voltados para a primeira visita do Ultimate ao país, os "guerreiros" que tentam emplacar a modalidade localmente apostam que formarão um campeão da organização nascido e criado no México em até dois anos.
O card de sábado terá 10 lutadores "hechos en México", a maioria vinda do recém-terminado TUF Latin America, primeira edição do reality show oficial do UFC voltada ao público latino-americano. O programa, que teve como treinadores o atual campeão dos pesos-pesados da organização, Cain Velásquez, e o brasileiro Fabricio Werdum, foi exibido em horário nobre na Televisa, principal emissora de TV do país, e sua audiência expressiva ajudou a detonar uma explosão de interesse no MMA. Novas academias abrem por todos os cantos, e as atuais já contabilizam aumento de até 100% no número de alunos. A Bonebreakers, uma das maiores do México, por exemplo, já tem entre 1.500 e 2.000 alunos no total de suas filiais espalhadas pelo território nacional, além de uma equipe de 20 lutadores profissionais e 50 amadores.
- Treinávamos na rua ou na praça, porque não tínhamos academia. Fomos crescendo e atualmente há cerca de 20 academias no México e sete na Guatemala - conta Raúl Senk, fundador e treinador principal da equipe.
O movimento, porém, ainda é muito recente para apresentar resultados expressivos. Os destaques do UFC 180 são todos estrangeiros: o brasileiro Fabricio Werdum, o neozelandês Mark Hunt, e os americanos Jake Ellenberger, Kelvin Gastelum, Dennis Bermudez e Ricardo Lamas. Os três últimos, assim como Velásquez, são abraçados pelo público local como "mexicanos" por terem pais nascidos no México que migraram para os EUA. Lutadores nascidos e criados no país, no entanto, ainda são raridade nos rankings do UFC. Erik "Goyito" Perez, que deixou o card por causa de lesão, é o único representante legitimamente mexicano na classificação - aparece em 13º entre os pesos-galos.
Mesmo Perez, porém, teve boa parte de sua formação como artista marcial nos EUA, treinando nas equipes Jackson's-Winkeljohn's MMA e Alliance. Quando lutadores mexicanos começam a se destacar no MMA, geralmente saem para treinar no "Big Brother" vizinho, onde encontram melhor estrutura e qualidade de treino.
- Quase todos os campeões de UFC, Bellator, WSOF e outros se dedicam inteiramente a treinar, porque o nível de vida nos EUA os permite isso. No Brasil, recentemente isso tem acontecido também. No México, nos falta apoio, estrutura. Tudo o que temos, construímos do nada, com nossas próprias mãos, sem apoio de ninguém. O governo não dá nenhum peso (moeda local) ao MMA, nada. As empresas privadas não apoiam, porque veem como um esporte errado. Apenas este ano começa a vir apoio e a se conhecer o MMA, porque vem o UFC. Há três anos, nos viam como loucos, consideravam uma violência, e as empresas não queriam patrocinar ninguém. As academias não ofereciam aulas de MMA, as pessoas só queriam boxe, caratê. Ainda não temos uma tradição de MMA mexicano - analisa Senk.
Enquanto o Brasil "criou" o Vale Tudo no início do século passado e países como Japão e EUA têm mais de duas décadas de experiência, a maioria das equipes do México não tem mais de 15 anos de vida. A Bonebreakers nasceu há 10 anos, fruto dos ensinamentos do mestre americano de raízes mexicanas Jess Galván, que criou uma arte marcial mista, Galván Combat System (GCS), desenhada para aproveitar o que de melhor tem o lutador latino-americano: sua "raça" e vontade. Raúl Senk aprendeu os preceitos do GCS na Califórnia e, a pedido de Galván, os levou de volta ao México em 2004. Junto a amigos do cenário gótico e do punk rock, formou a Bonebreakers, e colocou lutadores em competições regionais a partir de 2007.
- Temos aqui um estilo de luta desenvolvido especialmente para o latino-americano, que é um atleta com muito coração e muita garra. O mexicano é um povo de guerreiros, e queremos que essa característica nossa seja revertida pelos jovens para o nosso esporte. Nosso logotipo foi pensado baseado no rock negro, que sempre foi de combate e luta através dos movimentos sociais. Nosso estilo trata de mudar a mentalidade do lutador - explica Miguel Jiménez, um dos instrutores da equipe.
Em busca de encurtar a distância para as grandes potências internacionais do esporte, as equipes mexicanas estão se unindo e investindo em estrutura. Times como a Lobo Gym, de Guadalajara, a Entram Gym, de Tijuana, e a A.D.A.M, também da Cidade do México, apóiam-se mutuamente e vêm emplacando lutadores nas grandes organizações do MMA, como Irene Aldana e Alexa Grasso, do Invicta FC, e Akbarh Arreola, do UFC. Hoje, há um circuito amador com etapas mensais para que os lutadores ganhem experiência antes de ingressarem na carreira profissional. Os intercâmbios também são cada vez mais constantes, com equipes como Jackson's MMA, de Albuquerque (EUA), e Izzy Wrestling Style, de Chicago. Nesta semana, o brasileiro Leonardo Ligeirinho, faixa-preta de jiu-jítsu da Top Brother, do Rio de Janeiro, está no país para uma série de aulas e seminários.
- Estou aqui há dois meses, mas sempre venho, é o quarto ano que venho ao México fazer seminários. Sempre estou aqui ajudando a galera do professor Raúl a evoluir mais e mais. Quando estou aqui no México, minha agenda é mais ocupada do que livre. Tenho convites para ir a Cancún, Acapulco, mas não tenho tempo. Os mexicanos dizem que eu conheço mais o México que eles (risos). Venho com o pensamento de fazer crescer. Com o UFC vindo aqui, estão abrindo muitas academias. A tendência é crescer muito mais e trazerem mais brasileiros e americanos para fazer mais cursos, seminários e camps. Vejo o México daqui a dois anos como uma potência - diz Ligeirinho.
A evasão de talentos, porém, é a maior preocupação. Todos os lutadores saídos do TUF foram fazer seus camps em equipes americanas. Para a Bonebreakers, particularmente, a experiência tem sido traumática: Rodolfo "Fito" Rúbio, cria da casa, fez seu camp inteiro na Alliance, e teve apresentação irreconhecível contra Diego Rivas no "UFC: Shogun x St. Preux", no último sábado, em Uberlândia-MG. Agora, a equipe está reformando um de seus andares para criar novas instalações, com a finalidade de que seus atletas tenham a estrutura para realizar todos seus camps ali.
- Achamos um erro que o UFC nos leve nossos lutadores e lhes dêem novos treinadores. Fito não lutou nem 40% do que sabe em sua última luta. Uma das razões é que ignoram seus pontos fortes e lhe impõem um novo estilo. Não se pode impor um novo estilo em dois meses, é errado. Deve-se aprender e somar novas coisas ao seu jogo, mas não desistir de seu jogo para fazer outro. Temos que fazer intercâmbio, mas merecemos mais confiança para que os treinadores possam estar mais perto de seus lutadores nos momentos importantes de sua carreira - desabafa Senk.
O treinador acredita que este jogo vai virar nos próximos anos, e aposta suas fichas em Salvador Augusto "Dodger" Montaño, único representante do time no UFC 180. Na coletiva de imprensa de anúncio oficial do evento, o peso-meio-médio foi mais aplaudido que Cain Velásquez. Campeão da principal organização de MMA da América Central, o Xtreme Kombat, tem 13 vitórias e apenas uma derrota no cartel profissional, e, após intercâmbios nos EUA, voltou para fazer seu camp na Bonebreakers. Para Senk, o pupilo tem potencial para ser o primeiro mexicano de nascimento campeão do UFC - e em pouco tempo.
- (Teremos um campeão) Em dois anos. Conhecem Dodger Montaño? Vejam-no neste sábado. Creio que seja um dos principais prospectos, mas há muitos mais atrás dele. Posso mencionar lutadores de outras academias muito bons, que são jovens, com muita vontade, mas que necessitam de experiência. Não podemos queimar etapas. Estamos com cuidado para não queimar nossos lutadores como aconteceu com alguns que estrearam no UFC e sentiram os nervos e a falta de experiência - garante o técnico.
O Combate transmite o UFC 180 ao vivo e com exclusividade para todo o Brasil neste sábado, a partir de 22h (horário de Brasília), e o Combate.com acompanha em Tempo Real, com vídeo ao vivo da primeira luta do card preliminar. Na sexta-feira, canal e site exibem ao vivo a pesagem oficial a partir de 20h. Confira o card completo:
UFC 180
15 de novembro de 2014, na Cidade do México (MEX)
CARD PRINCIPAL
Peso-pesado: Fabricio Werdum x Mark Hunt
Peso-meio-médio: Kelvin Gastelum x Jake Ellenberger
Peso-pena: Dennis Bermudez x Ricardo Lamas
Peso-meio-médio: Chris Heatherly x Augusto Montaño
Peso-meio-médio: Edgar García x Hector Urbina
CARD PRELIMINAR
Peso-pena: Yair Rodríguez x Leonardo Morales (Final do TUF Latin America)
Peso-galo: Alejandro Pérez x José Quiñonez (Final do TUF Latin America)
Peso-galo: Jessica Eye x Leslie Smith
Peso-galo: Guido Cannetti x Henry Briones
Peso-galo: Marlon Vera x Marco Beltrán
Peso-pena: Gabriel Benítez x Humberto Brown
Peso-galo: Masio Fullen x Alexander Torres
Peso-mosca: Fredy Serrano x Bentley Syler
Jornal Folha do Rio.