Janot diz que não ficará 'batendo boca' com presidente da Câmara.

06/05/2015 13:50
Rodrigo Janot (TV Globo) (Foto: Reprodução Rede Globo)O procurador-geral da República, Rodrigo Janot
(Foto: Reprodução / TV Globo)

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou nesta terça-feira (5) que não ficará "batendo boca" com o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O peemedebista declarou nesta terça que o fato de Janot ter ressaltado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que há "elementos muito fortes" para investigá-lo na Operação Lava Jato é resultado de uma "querela pessoal" entre os dois.

"Isso [declaração de Cunha] não é problema meu. [...] Eu não vou ficar batendo boca", ressaltou o procurador-geral ao deixar sessão do Conselho Superior do Ministério Público Federal, em Brasília.

O parecer de Rodrigo Janot que pede a continuidade das investigações do suposto envolvimento do presidente da Câmara no esquema de corrupção que atuava na Petrobras foi protocolado na última quinta-feira (30) e disponibilizado pelo STF nesta segunda (4). O documento responde a um pedido de Cunha para arquivar a investigação.

 

“Ele [Janot] escolheu a mim e está insistindo na querela pessoal porque eu o contestei. Então, virou um problema pessoal dele comigo”, disse o peemedebista ao chegar nesta terça à Câmara.

Cunha também disse que o procurador-geral conduz uma “investigação própria” para tentar constrangê-lo. “Ele [Janot] coloca situações que não fazem parte do objeto inicial do Ministério Público, baseado em matérias jornalísticas, para tentar criar qualquer tipo de constrangimento”, reclamou o peemedebista. “[Mas] Não vai me constranger, estou absolutamente tranquilo”, acrescentou.

Na opinião do presidente da Câmara, Janot deveria explicar por que defendeu o arquivamento de inquéritos contra outras pessoas, como o senador Delcídio Amaral (PT-MS).

“Ele escolheu a mim e não a outras [pessoas]. Ele tem que explicar por que, por exemplo, o senador Delcídio Amaral arquivou o inquérito. Eu coloquei nos meus fundamentos que todos aqueles que eles colocam que estão envolvidos com o meu processo fizeram contribuições diretas [a essas pessoas]”, enfatizou.

Eduardo Cunha avaliou que a questão com Janot virou “pessoal” porque ele teria “provado” no seu pedido de arquivamento que outras pessoas que deveriam ser investigadas pelo Ministério Público foram poupadas.

A análise pelo plenário sobre o pedido de arquivamento de inquérito não tem data prevista para ocorrer.

Nos depoimentos, o doleiro diz que Cunha e o PMDB eram destinatários de propina paga pelas empresas Samsung e Mitsui num contrato de aluguel de sondas celebrado com a Petrobras. O deputado nega as suspeitas.Inquérito
O inquérito aberto no STF para apurar se Eduardo Cunha recebeu propina do esquema de corrupção que agia na Petrobras está baseado em relatos feitos pelo doleiro Alberto Youssef em acordo de delação premiada.

Nas delações, Youssef também contou que, em 2011, o atual presidente da Câmara teria pressionado um dos empresários que pagavam suborno ao protocolar requerimentos na Câmara cobrando explicações das empresas sobre o contrato.

Os requerimentos, apresentados ao Tribunal de Contas da União e ao Ministério de Minas e Energia, foram assinados por outros dois deputados. O objetivo seria pressionar o empresário Júlio Camargo, um dos delatores da Lava Jato, a retomar o repasse de valores desviados dos contratos para o PMDB, que teria sido interrompido à época.

Desde o surgimento da suspeita, Cunha afirma não ter sido responsável pelos requerimentos, atribuindo a autoria dos documentos à ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ).

Por meio da assessoria de imprensa, o peemedebista destacou que Solange Almeida foi ouvida sobre o assunto e negou que ele tivesse envolvimento com os requerimentos.

Em depoimento, Solange Almeida negou ter atuado em favor de Cunha, mas disse também que não se lembrava do teor dos requerimentos e nem de seus desdobramentos após a apresentação.