
Tornar a seleção brasileira um ambiente mais agradável a jogadores que desfrutam do bom e do melhor nos principais clubes do mundo tem sido o desafio de Edu Gaspar, coordenador da CBF. Apontado por quem trabalha com ele como um sujeito inquieto e especialista em se relacionar bem em variadas esferas, ele tem dado ouvidos aos atletas no início da era Tite.
Algumas mudanças sutis, na visão das pessoas que habitam o universo da Seleção, fizeram diferença nesses primeiros meses. Por exemplo, na passagem por Natal, palco da goleada por 5 a 0 sobre a Bolívia, no mês passado, Edu detectou certo desgaste pelo excesso de tempo no mesmo lugar. Os jogadores passaram de seis (os da Europa) a sete noites no mesmo hotel, e tiveram um dia de folga, quando se reapresentaram à noite.
A paisagem era linda: piscinas, praias, natureza, mas o “feedback” dos jogadores diz que talvez seja saudável variar. Nas próximas vezes, é possível que haja um jantar num local diferente, alguma mudança de rotina para aliviar atletas que, sobretudo na Europa, não estão acostumados a se concentrar.
Tanto que dessa vez, após o clássico diante da Argentina, na próxima quinta-feira, em Belo Horizonte, a CBF vai tirar a delegação do hotel em que ficará de domingo a sexta-feira, e se hospedará, sábado e domingo, na Cidade do Galo, local de treinamento e concentração do Atlético-MG, antes de viajar a Lima para enfrentar o Peru.
As mudanças não são apenas ambientais.
Depois das vitórias sobre Equador e Colômbia, nas primeiras partidas dessa nova comissão, Edu notou um trabalho excessivo dos fisioterapeutas no tratamento dos jogadores, que se submetiam até a madrugada a recuperação. Na Seleção, em apenas nove dias de reunião, é mais importante recuperar do que treinar.
A constatação, levada em relatório ao presidente Marco Polo Del Nero, permitiu que a partir dos jogos contra Bolívia e Venezuela, o fisioterapeuta Alex Evangelista se juntasse a Bruno Mazziotti e Ricardo Sasaki. Agora são três que cuidam do grupo.
Os voos também foram tema de pesquisas informais com os jogadores. Em Natal, pela primeira vez, a CBF fretou um avião que foi de Londres à capital do Rio Grande do Norte com a imensa maioria. Segundo a coordenação, isso reduziu em média de 19 para 9 horas o tempo de viagem dos convocados que atuam no exterior.
Edu recebeu aprovação total, mas isso não será um padrão. A CBF só fretará voos da Europa quando o destino tiver logística complicada, como Natal. Para Belo Horizonte, os jogadores tomaram voos normais, mas dentro de um planejamento que também não estenda demais o trajeto. Neymar, por exemplo, só chegou na manhã desta terça-feira. A comissão técnica estudou trazê-lo antes, mas seu tempo de recuperação após a vitória do Barcelona sobre o Sevilla seria curto para depois encarar um voo diurno e cheio de escalas. Entendeu-se por bem que ele, assim como o meia Giuliano, só desembarcassem na terça.
A volta da Seleção também está sendo assunto. Edu vai propor aos clubes que ele organize o retorno com planos de logística que façam os jogadores chegarem antes aos seus destinos.
Um jogador convocado por Tite, e que havia disputado a Copa América Centenário com Dunga, foi ao coordenador dar parabéns pelas mudanças na seleção brasileira. O lateral-esquerdo Marcelo, que não tinha bom relacionamento com o ex-técnico, mandou uma mensagem de agradecimento pela atenção recebida no corte que o tirou dos últimos jogos.
Conquistar os jogadores foi meta imposta por Tite, Edu e companhia. Na avaliação deles, está sendo cumprida.