Em meio à crise desenhada desde 2013, Bota se apoia na força do grupo.

31/03/2014 12:25

Nesta segunda-feira, depois de dias quentes, o Botafogo tem reapresentação marcada para 15h30m, no Engenhão, ainda em meio à crise financeira. O protesto antes do treino de sábado e o cancelamento da atividade de domingo foram novas provas do poder do elenco em se mobilizar a partir de uma brecha criada pelo grave momento do clube. Mas o problema não é novo. O processo teve início em 2013, e chegou a receber o nome de "Democracia Alvinegra". Com vencimentos e pagamentos em atraso, o Alvinegro fica refém. A única alternativa é confiar no profissionalismo dos atletas, que já deram provas de comprometimento e prometem foco único nos próximos dias.

A medida aconteceu às vésperas de um jogo decisivo. Na quarta-feira, o Bota, líder do Grupo 2 com sete pontos, enfrenta o Unión Española, no Maracanã. Uma vitória garantirá a classificação para as oitavas de final da Libertadores. O estádio estará cheio, e o grupo quer o apoio da torcida.

reunião jogadores treino Botafogo (Foto: Fred Huber)Jogadores se reúnem antes do treino Botafogo no último sábado.


 

 

 

Em 2013, atraso derrubou concentração e viagem

Durante o Campeonato Carioca do ano passado, o Botafogo atrasou os salários. Na ocasião, os jogadores se recusaram a concentrar antes dos jogos, e tinham apoio do então técnico Oswaldo de Oliveira. Tendo como líderes Seedorf, Jefferson e Bolívar, o grupo se apresentava apenas na hora do almoço no dia das partidas. O desempenho não piorou. Pelo contrário. A equipe foi campeã estadual com sobras, vencendo a Taça Guanabara e a Taça Rio. 

Se as finanças andavam abaladas, a interdição do Engenhão foi uma facada inesperada e agravou o problema das já combalidas finanças. Durante a semana passada, o fechamento do estádio completou um ano. E a diretoria reiterou o prejuízo que se acumulou ao longo desse tempo. 

A estreia do time no Brasileiro foi marcante. Insatisfeitos, os atletas se reuniram, fizeram uma carta de repúdio contra promessas não cumpridas e comunicaram que só viajariam para São Paulo no dia do jogo contra o Corinthians, que terminou empatado em 1 a 1. 

Botafogo Comunicado (Foto: Fred Huber)Carta de protesto dos jogadores no ano passado.

 

As dificuldades se arrastaram por todo o ano de 2013, mas o desempenho não caiu. Apesar da saída de alguns jogadores, como Fellype Gabriel, Andrezinho e Vitinho, o clube viu boa parte da verba ser penhorada por causa de dívidas, inclusive nos valores das negociações dos atletas. O Botafogo sofreu ao ser excluído do ato trabalhista e viu as penhoras e pendências se transformarem em uma grande e ameaçadora bola de neve. 

Saída de Seedorf não alivia

Na atual temporada, a vaga na Libertadores e a diminuição da folha salarial com a saída de Seedorf, que recebia cerca de R$ 700 mil mensais (pagos pelo clube a cada três meses, ou seja, R$ 2,1 milhões de uma vez), aumentaram a expectativa de que as contas ficassem em dia. Não foi isso que aconteceu. Em seu orçamento para 2014, homologado pelo Conselho Fiscal, a diretoria já previa redução de cerca de R$ 20 milhões que atingiria o departamento de futebol.

Apesar do aumento do valor da verba do patrocinador master, a Viton 44, o clube, afogado em dívidas trabalhistas e fiscais, viu sua receita ficar 100% bloqueada. O resultado: pagou apenas o salário de janeiro aos atletas, e nem a premiação da classificação para a fase de grupos da Libertadores foi quitada. 

Presidente diz que não tem como pagar

 

Nesta temporada, a concentração em jogos no Rio é opcional. Os que desejam dormir em General Severiano precisam informar com antecedência. Os demais se apresentam no dia da partida. A insatisfação com o atraso nos pagamentos é ainda maior por parte dos jogadores recém- contratados este ano, que não receberam. 

De acordo com o presidente Maurício Assumpção, a situação é muito grave e não há previsão de quando o Botafogo poderá ficar em dia (assista ao vídeo):

- Não é que eu não queira pagar, não tenho como pagar porque 100% das minhas receitas estão bloqueadas. Como que eu pago? A realidade é essa. Não posso prometer nada. Os jogadores entendem, mas estão no direito deles. Hoje são os jogadores, mas daqui a 20 dias serão os aproximadamente 400 funcionários do Botafogo que estarão nesta situação. Não vão receber os seus salários.

Antes mesmo dos protestos dos últimos dias, o presidente alvinegro já parecia prever o pior por conta da avalanche de penhoras e bloqueios:

- Este é o maior problema do clube hoje. Da forma como está, não consigo pagar o mês seguinte. Infelizmente. O Botafogo deve hoje cerca 90 milhões de dívidas trabalhistas. 

A luz no fim do túnel e ação em Brasília

A esperança do clube é ser incluído novamente no Ato Trabalhista e que o Proforte, programas de equacionamento de dívidas e que permitiriam ao clube ter novamente receita, saiam do papel. Desta forma, o Alvinegro poderia equacionar suas dívidas, ganhar tempo para pagá-las e novamente mexer em sua receita sem que seja integralmente bloqueada. 

Na próxima quarta-feira, Maurício Assumpção vai a Brasília defender o Proforte. Ele está otimista, e um dos motivos é o fato de o projeto ter representantes tanto da base governista quanto da oposição, o que pode diminuir a rejeição no congresso.

Em meio a tantos problemas, a cúpula do futebol tenta reforçar o elenco, mesmo com suas carências expostas publicamente. Os alvos são Emerson Sheik, Deivid, Vitinho e Fabrício Carvalho. Mas a pauta de transações deve sofrer com o momento complicado e precisar ser tratada com cautela, já que é preciso controlar os ânimos dos jogadores que estão no clube e desejam receber seus salários.

 

 

 

 

 

Jornal Folha do Rio.