Doença, internação, 4 quilos a menos e ouro: a saga de Claudinha nos JMM.
13/10/2015 11:06
Quando recebeu sua passagem Rio-Gimcheon, para ser a levantadora titular da seleção brasileira nos Jogos Mundiais Militares da Coreia do Sul, Claudinha não sabia que estava embarcando numa grande furada. O que aparentava ser uma simples dor de garganta na véspera da viagem, se transformou em um quadro grave e próprio de internação. Ao chegar em solo asiático, depois de viajar por 30 horas, a jogadora do Praia Clube foi levada às pressas para um hospital local com o rosto inchado, o ouvido entupido e a garganta fechada.
Alérgica, não pôde tomar uma série de medicamentos. Consciente, viu a negativa dos médicos sul-coreanos em autorizar o uso de cortisona. Nem mesmo a presença do Capitão Martins, integrante médico da delegação, foi o suficiente para alterar o cenário nos dois primeiros dias. Sem ter condições de ingerir alimentos sólidos ou líquidos, ficou 48 horas sem comer, beber e dormir, apenas soro na veia e muita dor no corpo.
- O médico (brasileiro) do quartel falou que eu tinha que tomar corticoide, mas (o medicamento) dava doping. Se a organização liberasse, não teria problema, mas os médicos coreanos não queriam liberar. A dor era tão forte que só pensava nela, era meio desesperador. Queria sair correndo do hospital e ir para o colo da mãe. Só pensava em ficar boa. Não entendia nada. Como estava cada dia pior, todos ficaram preocupados. Conseguiram os remédios, tomei e melhorei. Só assim para os médicos assinarem - explicou.
A decisão de, inicialmente, abrir mão do campeonato não foi tão dolorosa. Nervosa por tudo o que acontecia, ainda mais do outro lado do mundo, com cultura e idioma diferentes, o que a atleta mais queria era se ver livre de tubos, remédios e um quarto de hospital.
- Todos viram que o mais importante era minha saúde. Eu já estava fora do campeonato. Demorei cinco dias para melhorar. Ainda consegui ver a estreia contra a China no ginásio, mas me senti mal, não foi uma boa ideia. Nos outros jogos, fiquei no hotel. Só na final que consegui ir para o banco.

A delegação brasileira conseguiu com a organização uma espécie de efeito suspensivo para que a atleta pudesse acompanhar de perto a disputa pelo ouro contra as poderosas chinesas, que já haviam batido as meninas na estreia, e até mesmo atuar.
- Eu podia jogar, mas não dava conta. Fiquei mais de uma semana com o pescoço parado e tive contratura. Não conseguia mexê-lo. Cheguei a aquecer, mas fiquei com as meninas no banco, torcendo.
Claudinha não trouxe na bagagem apenas lembranças ruins. Além da saúde, ela carregou uma medalha de ouro e o carinho das companheiras no momento difícil.
- Graças a Deus, estou trazendo a medalha. Saí daqui para jogar um campeonato, para trazer um troféu e acabei não podendo ajudar da forma que gostaria. Mas as meninas foram sensacionais, me abraçaram. Imagina você ruim do outro lado do mundo? Vencemos adversidades, um grupo desfalcado, quebrado, sem entrosamento. Foi muito bacana. Focamos no objetivo de ser campeão e fomos embora. O grupo está de parabéns.
De volta ao Brasil e quase 100% para se reapresentar ao Praia Clube nesta quarta-feira, ela chegou a brincar que conseguiu fazer em uma semana o que muitas mulheres sonham durante boa parte da vida.
- Ainda tenho algum incômodo na garganta, vou ao médico hoje (terça), mas estou bem. Perdi quatro quilos, tudo o que uma mulher quer (risos), a única coisa boa disso é perder esses quatro quilos (mais risos). Estou brincando, sempre faço dieta, me cuido, mas não desta forma. Você acaba perdendo massa muscular.
A seleção brasileira militar feminina de vôlei levou o ouro da sexta edição da competição na madrugada de sexta para sábado. Comandada por Anderson, ex-jogador do Brasil, a equipe superou a China na decisão por 3 sets a 0 e subiu ao lugar mais alto do pódio, mesmo muito desfalcada. Além de Claudinha, o treinador teve problemas com as contusões de Suelle e Dayse (que sequer viajaram) e as limitações físicas da central Natasha. A oposta Renatinha, que atua no São Bernardo, teve que ser improvisada no meio de rede. Ao todo, foram apenas duas centrais e duas ponteiras, metade do convencional.
