Dirigente explica proibição do soro e regras da política antidoping do UFC.

26/08/2015 11:54
Jeff Novitzky UFC (Foto: Adriano Albuquerque)Para Novitzky trabalho de controle de doping é como o trabalho de um detetive (foto: Adriano Albuquerque)

Desde o dia 1º de julho, está em vigor no UFC uma nova política antidoping que prevê, entre outras coisas, que os lutadores em contrato com o Ultimate possam ser submetidos a testes antidoping surpresas durante os 365 dias do ano. 

Sob o comando de Jeff Novitzky, vice-presidente de Saúde e Performance dos Atletas, a nova política está sendo implementada, com total independência, pela Agência Antidoping dos EUA (USADA), que segue o protocolo da WADA (Agência Mundial Antidoping). 

Outra uma novidade que deve passar a valer a partir de 1º de outubro e que vem causando bastante polêmica, é a proibição do uso de soro intravenoso em quantidade acima de 50 ml para reidratação dos lutadores após a pesagem. Apesar de alguns atletas, como o campeão peso-pena José Aldo, já terem declarado que vão continuar fazendo uso do artifício, o lutador que for pego infringindo a regra pode pegar de dois a quatro anos de suspensão como punição.

- Esse é um trabalho de detetive. Se há uma suspeita de que o lutador esteja usando, talvez a USADA investigue mais a fundo. Há testes para plastificantes, que estão presentes nas embalagens de soro, e o passaporte biológico, ou seja, quando eles olharem para os níveis de sangue e urina ao longo do tempo, baseado em alguns padrões, é possível saber se alguém usou soro intravenoso acima de uma certa quantidade. Outra mensagem que eles têm nos dado é que, digamos que alguém esteja falando: “Veja, não há 100% de chance de eu ser pego”. Bom, nós temos punições de dois a quatro anos de suspensão para quem foi pego pela primeira vez. A questão é saber se realmente alguém vai querer correr esse risco - declarou Novitzky em entrevista exclusiva ao Combate.com.

Jeff Novitzky UFC (Foto: Evelyn Rodrigues)Jeff ajudou a desmascarar esquemas de antidoping envolvendo alguns dos maiores nomes do esporte mundial, como o ciclista Lance Armstrong (foto: Evelyn Rodrigues)

 

Novitzky é um especialista no assunto e investiga o uso de esteroides nos esportes há anos pelo Serviço de Receita Interna do governo federal dos EUA.  Agente especial da Administração de Alimentos e Drogas (FDA na sigla em inglês) desde 2008, ele teve papel decisivo em algumas das investigações que desmascararam esquemas de doping envolvendo alguns dos maiores nomes do esporte mundial, como Maion Jones, Tim Montgomery, Justin Gatlin e Lance Armstrong. Durante a entrevista, ele também explicou que o uso de soro acima de 50 ml não é permitido pelo código da WADA há pelo menos três anos:

- Na nossa nova política, que adota o código da WADA, soro intravenoso acima de 50 ml é um método proibido desde 2012. Então, para qualquer comissão atlética que estivesse seguindo o código da WADA, desde 2012 o soro intravenoso acima de 50 ml já seria ilegal. A nossa política só foi implementada em 1º de julho.  A partir de 1º de julho, o uso de soro é contra a nossa política. Mas a USADA decidiu que não iria colocar isso em prática imediatamente, então eles decidiram aplicar um período de adaptação, que se estenderá até 1º de outubro. A partir de então, um lutador que estiver muito desidratado só poderá usar até 50 ml de soro intravenoso. Se ele precisar de mais, ele poderá se dirigir a um hospital para se reidratar, mas se ele for atendido em um hospital, terá que comunicar a comissão atlética local e acredito que a comissão pode não deixá-lo lutar por ter sido hospitalizado na véspera de seu duelo - declarou.

Durante o bate-papo, Jeff explicou como será a execução dos testes antidoping no Brasil, através de uma parceria com a ABCD (Associação Brasileira de Controle de Dopagem) e a CABMMA (Comissão Atlética Brasileira de MMA). O dirigente também detalhou como a USADA vai acompanhar o paradeiro dos lutadores para poder realizar esses testes durante todo o ano e alertou para a obrigatoriedade da TIU (isenção de uso terapêutico em português) a todo atleta que se lesionar ou se submeter a qualquer tipo de tratamento médico com substâncias proibidas na lista da WADA, mesmo em períodos fora de competição.

Confira a entrevista abaixo, na íntegra:

Hacran Dias soro e macarrão UFC (Foto: Ana Hissa/SporTV.com)Hacran Dias é um dos lutadores que já fez uso de soro intravenoso para repor peso (foto: Ana Hissa)

Como a USADA vai saber se um lutador fez uso do soro intravenoso na reidratação? Há testes específicos para isso?

É a USADA quem está respondendo a essas questões, porque eles têm os cientistas usando os laboratórios da WADA. Mas a mensagem que eles vêm passando é que há testes para plastificantes, que estão presentes nas embalagens de soro, e o passaporte biológico, ou seja, quando eles olharem para os níveis de sangue e urina ao longo do tempo, baseado em alguns padrões, é possível saber se alguém usou soro intravenoso acima de uma certa quantidade. 

Por que só agora essa proibição?

A USADA vai passar a fazer cumprir essa questão do soro a partir do dia 1º de outubro. Agora estamos na parte de educação, explicando porque é proibido, pois, como eu disse, o soro intravenoso não é aceito pela WADA desde 2012 porque, segundo o que eles alegam, soro intravenoso pode ser utilizado para diluir o seu sangue ou sua urina, mudando o passaporte biológico para mascarar testes antidoping. Isso, combinado com o aspecto de saúde, é sempre perigoso, pois você coloca uma agulha no seu braço. Por esses dois motivos o soro é proibido no código da WADA. Por isso, estamos educando os lutadores e vamos oferecer a eles recursos para que eles vejam como é mais saudável se reidratar via oral em vez de colocar algo no seu braço. As histórias que eu ouço são que, quando um lutador usa soro intravenoso, ele se sente melhor em cinco ou 10 minutos. O problema é que eles geralmente estão severamente desidratados indo para a pesagem. Oralmente é mais difícil, mas com o tempo, de 24 a 30 horas é tão ou mais efetivo e muito mais saudável para um lutador.  

A USADA vai poder entrar no quarto dos atletas após a pesagem para verificar se eles estão fazendo uso do soro intravenoso na reidratação?

Veja, na minha carreira passada, eu era um agente de aplicação da lei, mas isso não é a mesma coisa. Nós não temos o direito de invadir a privacidade de ninguém. Porém, já tivemos situações no passado em que atletas estavam tomando soro e alguém tirou foto disso e passou para uma autoridade antidoping, que acabou utilizando isso como prova. Então, há situações em que há evidências em vez de testes positivos e elas podem ser usadas para aplicar uma punição, que também está prevista para esses casos em nossa política antidoping.

Como você acha que a implementação dessa nova política vai afetar os atletas que cortam muito peso?

Acho que isso vai afetar todo mundo e talvez obrigue os lutadores a permanecerem em um peso próximo do que eles lutam durante todo o ano, em vez de vermos essas variações bruscas de peso. Eu conversei com algumas pessoas e ouvi que esse não é um problema tão grande entre as mulheres, como é para os homens. Mas aquelas que usam soro intravenoso também terão que se ajustar e acho que essa medida vai acabar beneficiando-as a longo prazo.

Quem fará os testes antidoping no Brasil? 

Uma das razões pelas quais assinamos essa parceria com a USADA é que eles têm relações com agências antidoping internacionais, incluindo a ABCD (Associação Brasileira de Controle de Dopagem). Então, além já termos feito reuniões com algumas academias no Brasil, nós também já nos reunimos com a ABCD e com a CABMMA, e saímos de lá com alguns acordos, deixando claro que vamos trabalhar com a USADA, com a ABCD e a CABMMA, porque todas essas três organizações têm o mesmo objetivo e querem limpar o esporte.

José Aldo exame antidoping NAC (Foto: Raphael Marinho)José Aldo mostra exame antidoping de urina colhido antes de sua luta contra Conor McGregor ser cancelada (foto: Raphael Marinho)

 

Antes da luta entre José Aldo e Conor McGregor ser cancelada por conta da lesão do brasileiro, houve uma situação polêmica durante um teste antidoping que foi colhido no Brasil e quase acabou com a deportação do coletor enviado pela Comissão Atlética de Nevada...

Eu não sei os detalhes dessa história, porque não foi um teste do UFC ou da USADA, foi um teste solicitado pela Comissão Atlética de Nevada, mas o que eu sei é que situações como essa não vão mais acontecer, porque vamos trabalhar com a USADA, a CABMMA e a ABCD. Aos poucos, nós vamos enviar pessoas para lá e as pessoas do Brasil vão se familiarizar com o processo e com os indivíduos envolvidos e não vai mais haver confusão. O nosso programa vai funcionar assim: se a USADA decidir testar um atleta brasileiro, eles vão entrar em contato com a ABCD e a agência vai até o lutador colher a amostra e o lutador vai saber quem está indo fazer essa coleta. 

Como vão funcionar os testes antidoping em geral?

Na nossa política, há três kit que serão entregues para os lutadores, todos eles lacrados, e o lutador têm um papel ativo de providenciar a amostra, na verdade ele faz quase tudo, então desses três kits ele vai escolher um para utilizar, vai abrir, tirar o lacre, colher a amostra, claro, tudo isso sob a observação do representante da agência de controle de doping, e então ele vai levar esse copo para duas garrafas de vidro e vai depositar a urina dentro das amostras A e B. Então, o lutador vai lacrar as duas garrafas, e isso funciona de uma forma que apenas um cortador a laser no laboratório vai poder cortar esse lacre. Isso é para dar confiança aos nossos lutadores de que não haverá nenhum problema com relação a confusão ou contaminação. No final do processo, o lutador terá que declarar se a coleta foi tranquila e assinar um documento. Então estamos tentando mostrar aos atletas confiança de que esse processo é sério e profissional e de que as suas amostras serão protegidas com integridade.

Além dos testes antidoping desse novo programa do UFC, o atleta ainda pode ser testado separadamente pelas comissões atléticas?

Sim. A comissões atléticas ainda podem testar os atletas do UFC separadamente.

Como vocês vão determinar quem será testado? Sorteio, proximidade de luta?

Essa é uma pergunta para a USADA e é por isso que nosso programa é tão bom. O UFC não pode fazer favor a ninguém, nós não temos nenhum interesse de negócios, nós entregamos tudo isso a uma agência independente. São eles quem vão decidir quem vai ser testado, onde e quando. Outra excelente notícia sobre o nosso trabalho é a transparência, então qualquer pessoa pode entrar no nosso site e ler a nossa política. E, conforme os nossos lutadores forem sendo testados, esses testes e os resultados vão estar disponíveis logo para todo mundo ver. O nosso programa vai ser um livro aberto.

Com qual agilidade esses testes serão disponibilizados online? Corremos o risco de acontecer de os resultados saírem após as lutas?

Os nossos resultados vão ser divulgados assim que eles chegarem do laboratório e estarão disponíveis para todo mundo ver: lutadores, fãs e público em geral.

Coletiva UFC sobre nova política antidoping da organização (Foto: Evelyn Rodrigues)Jeff, entre a alta cúpula do UFC, na ocasião do anúncio do novo programa antidoping da entidade (foto: Evelyn Rodrigues)

Você esteve envolvido em grandes investigações de esquemas antidoping envolvendo alguns dos maiores nomes do esporte mundial, como o caso do Lance Armstrong. Quão desafiador é trabalhar com o doping no UFC?

Eu acho que o problema com drogas de aumento de performance não é único do UFC. Já vi, na minha carreira anterior, que esse é um problema de todos os esportes. O que é único, nesse caso do UFC, é o quão importante esse assunto é para o MMA. O Dana White tem dito isso, mas no caso de um jogador de beisebol, ele vai usar substâncias de aumento de performance para pegar um bastão e acertar uma bola o mais longe que puder. É uma questão completamente diferente de se ter dois seres humanos em um octógono tentando finalizar ou nocautear um ao outro. Não acho que esse problema é único, mas acho que tem uma importância única. De todos os esportes, talvez esse seja o mais importante para se certificar que aquele campo de batalha é justo. Então vamos usar todas as ferramentas necessárias para tornar aquele campo de batalha equilibrado. 

O que mudou na sua carreira desde que você assumiu o cargo de vice-presidente de Saúde e Performance dos Atletas no UFC?

A diferença que eu vejo é que, na minha carreira anterior, as pessoas odiavam me ver. No UFC eu sou como um advogado do atleta, especialmente porque não estou administrando o programa, eu passei a bola para a USADA. Então o meu papel é contactar e educar, ser uma fonte de pesquisa e, até agora, tenho recebido dezenas de contatos de atletas perguntando: “Posso tomar essa substância?”, “Você pode me ajudar com esse problema do soro?”. Espero que agora as pessoas fiquem felizes ao me ver, ao contrário do que acontecia antes. Isso me faz me sentir melhor comigo mesmo.

A nova política antidoping do UFC prevê que um atleta pode atrasar a coleta de um teste antidoping surpresa por algumas razões aceitáveis. Quais são elas?

Muitas razões, como treinamento, por exemplo. Se um representante do controle de dopagem aparecer na academia e o atleta acabou de começar o treino, ele tem o direito de dizer: “Ei, espere até eu acabar o treino”.  A única coisa é que o representante precisa manter aquele lutador dentro de seu campo de visão até ele produzir a amostra, mas ele vai ter que respeitar o direito do atleta, mesmo que leve uma hora ou três. 

E quanto às isenções de uso terapêutico? Elas ainda são permitidas?

Há algumas confusões sobre isso. Existem as TUIs (sigla em inglês para isenção de uso terapêutico) e as TRTs (terapia de reposição de testosterona), que foram banidas. Não haverá nenhuma isenção para TRT, mas as TUIs continuam sendo necessárias. Nós tivemos, por exemplo, um atleta com uma alergia muito grande e cujo médico havia receitado uma substância que talvez estivesse na lista de proibições da WADA. Em uma instância dessas, a USADA vai consultar seus médicos e cientistas independentes e dizer: “Há realmente uma necessidade médica para isso ou essa necessidade médica vai apenas dar alguma vantagem a esse lutador?”. Outro exemplo é um atleta que tem asma e precisa de uma bombinha de inalação antes de treinar, nesse caso ele pode ter uma isenção concedida.

Nick Diaz (Foto: Evelyn Rodrigues)Nick Diaz é um dos atletas do UFC que já foi flagrado no teste antidoping por uso de maconha (foto: Evelyn Rodrigues)

E como vão funcionar os testes antidoping para drogas recreativas como a maconha? Ela vai continuar sendo testada apenas em competição?

No caso da maconha, na nossa política o uso da droga só é testado em competição, ou seja, no período de seis horas antes da pesagem até seis horas depois da luta. É uma janela de 30 horas. Não apenas é uma droga que é testada apenas em competição, mas o limite agora é bastante alto, de 150 nanogramas por ml. Há alguns anos, o código da WADA só aceitava 15 nanogramas por ml. Então esse limite aumentou 10 vezes. Eu tenho dito aos nossos atletas que nós não recomendamos que eles façam uso desse tipo de coisa por razões de saúde, mas essa política não foi colocada em prática para ser uma polícia moral. Não posso te dizer o quão antes de uma competição eles devem parar de fumar maconha, mas 150 nanogramas por ml é um limite bastante alto.

Os atletas também terão que indicar seu paradeiro durante 365 dias no ano? Como vocês vão controlar isso?

Parte do nosso programa é que os nossos atletas podem ser testado 365 dias no ano e a única forma da USADA poder fazer isso é sabendo onde encontrá-los. Então eles terão que entrar online, utilizar algumas ferramentas bastante fáceis de se usar, e terão que notificar a USADA sobre onde vão estar. Eles não precisam dizer onde vão estar durante as 24 horas do dia, só precisam dizer onde vão passar a noite e talvez algumas atividades regulares durante o dia, como por exemplo que horas vão treinar na academia. A razão disso é que se a USADA decidir testar o lutador A, eles vão olhar os seus registros e ver seus horários de treino e em quais locais e horários podem encontrá-lo para aplicar o teste.
 

Anderson Silva recuperação lesão MMA (Foto: Reprodução / Instagran)Lutadores que sofrerem lesões graves também terão que pedir autorização para tratamento (foto: Reprodução/ Instagram)

Se um lutador se lesionar ele ainda pode ser submetido a um teste antidoping surpresa? Como fazer com relação aos medicamentos que ele tiver que tomar por conta dessa lesão?

Se um lutador se machucar ou sofrer uma lesão, ele ainda está suscetível ao teste antidoping. No nosso programa, o atleta pode ser testado indepentendemente de ele ter ou não uma luta agendada. Se ele estiver sob contrato com o UFC, ele pode ser testado durante todo o ano. Quando há uma lesão e o lutador precisar de algum tipo de medicamento para sarar, ele terá que preencher uma solicitação de isenção de uso terapêutico com a USADA e aguardar aprovação. Agora, se acontecer algo como uma lesão que é mais séria ou uma emergência, a USADA entende isso e não está pedindo para que o atleta espere. A sugestão deles, nesse caso, é pedir que o atleta seja tratado e peça uma isenção retroativa. Então, após o procedimento, o atleta pode dizer: “Eu estava internado e o médico me deu uma injeção porque eu precisava de um medicamento para isso e aquilo” e a USADA vai analisar isso e, se for por uma razão médica válida, eles vão garantir essa autorização retroativa. O meu conselho é que o atleta sempre ligue e pergunte, entre em contato, porque aí eu posso ligar para a USADA e explicar a situação. Comunicação é tudo e não  há um dia sequer que vou reclamar de receber muitas ligações. Isso só vai mostrar que estou fazendo um bom trabalho.

Que tipo de orientação os lutadores estão recebendo sobre essas novas regras?

Há materiais impressos para referência e materiais online, onde eles podem consultar e me ligar, porque meu telefone também está à disposição. Se eles não conseguirem achar a resposta sozinhos, eu posso ajudá-los a encontrá-la.

Os testes antidoping fora de competição vão inclui o menu completo ou parcial da WADA?

O nosso teste fora de competição será com “substâncias não especificadas” e isso inclui esteroides anabolizantes, hormônio do crescimento (GH), drogas de dopagem de sangue. Nos testes “em competição” buscaremos por essas substâncias mais as drogas de abuso (maconha, cocaína e estimulantes). 

exame antidoping copa do mundo laboratorio suíça (Foto: EFE)Cada lutador do UFC poderá ser submetido a pelo menos quatro testes por ano (foto: EFE)

Qual será a média de testes antidoping a que cada lutador será submetido ao longo de um ano?

A média, de acordo com o número de lutadores do UFC e o número de testes que contratamos junto à USADA, é de quatro a seis testes por lutador. Mas, em um ano, acho que vocês verão que nem todos os lutadores terão esse mesmo número. A USADA vai olhar o passaporte biológico por um certo período de tempo e, quando eles detectarem variações em alguns índices, eles provavelmente vão testar esses indivíduos de forma mais regular. 

Você acredita que com essa nova política o UFC vai conseguir limpar o esporte? 

Eu não sou bobo de achar que nós vamos acabar com o doping no esporte. Já tive muita experiência e passei muitos anos dizendo a mim mesmo: “Depois dessa grande investigação, todo mundo vai parar”, e aí eu continuava vendo casos ano após ano. Então tudo o que eu posso fazer é o que estou fazendo, ter a melhor administração independente para cuidar dos testes, testar os atletas 365 dias por ano, ter um programa de passaporte biológico e usar todas as ferramentas que eu tive ao longo dos últimos 15 anos para limpar o esporte. Mas dizer que isso vai funcionar 100%, com base na minha experiência anterior, é sempre um jogo de pega-pega. Os testes antidoping estão sempre um passo atrás do que os atletas estão fazendo. No entanto, esperamos diminuir essa diferença o máximo possível com essa nova política.

O Comitê Olímpico tem o costume de colher amostras para serem testadas mais tarde, com métodos mais modernos que podem ser desenvolvidos no futuro. Isso é algo que vai acontecer também com as amostras colhidas dentro dessa nova política antidoping do UFC?

Parte da nossa política é de que as amostras vão ser congeladas e armazenadas, então toda vez que surgir uma nova droga que até então não podia ser testada, quando esse teste for desenvolvido, mesmo que demore anos, os laboratórios vão voltar e testar amostrar congeladas para essa nova droga. Claro que isso só vai ser implementado de agora em diante, com essa nossa nova política que está em vigor desde o dia 1º de julho. Daqui a 20 anos, se você testar positivo para uma droga em uma de suas amostras congeladas, isso vai manchar a sua reputação. Vi muito disso na minha carreira anterior e é algo que eu tento dividir com os lutadores o tempo todo. Sempre digo: “É mais do que perder uma vitória ou alguns anos, você precisa encarar seu amigos, sua família e o seu legado”. Eu chamo isso de dano colateral e alguns dos últimos danos colaterais que vi de atletas sendo pegos e expostos por esse tipo de coisa, arruinou o resto de suas vidas. É algo muito difícil de se apagar. Eles precisam pensar no seu legado.

Como o UFC vai determinar a punição a lutadores que já cumpriam suspensão por doping no passado e forem novamente flagrados?

Na nossa política, se o lutador já foi pego no passado por uso de alguma coisa, a USADA vai olhar para esse caso e analisar se foi sério e justo, o tipo de laboratório que testou aquela amostra (se foi um laboratório cadastrado pela WADA que fez o teste), se o atleta foi julgado de forma justa, se teve a chance de apelar. E a USADA pode levar isso em consideração, mesmo que o atleta tenha sido punido em um evento diferente. Nesse caso, na primeira ofensa do lutador no UFC, ele pode receber punições mais severas.