Dilma afirma que Levy foi 'infeliz' ao criticar política de desoneração.

02/03/2015 11:04

A presidente Dilma Rousseff afirmou neste sábado no Uruguai que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi "infeliz" ao declarar que a "brincadeira" da desoneração da folha de pagamento de segmentos empresariais custa R$ 25 bilhões por ano e é "extremamente cara".

Levy fez o comentário nesta sexta-feira, ao anunciar uma redução na desoneração, que, para ele, "não deu os resultados que se imaginava" e não serviu para proteger o nível de emprego. Segundo o ministro, em um momento em que a economia está se ajustando, as empresas também "vão ter de se ajustar". Para ele, o setor empresarial vai descobrir novos caminhos para continuar crescendo com menos transferências e renúncias fiscais do governo.

Acredito que a desoneração da folha foi importantíssima – e continua sendo. Se ela não fosse importante, nós tínhamos eliminado e simplesmente abandonado. Acho que o ministro foi infeliz no uso do adjetivo."
Presidente Dilma Rousseff

Dilma contestou a declaração do ministro durante entrevista em Colonia do Sacramento, no Uruguai, antes de participar da inauguração de um parque eólico resultante de parceria entre as estatais brasileira Eletrobras e uruguaia UTE.

"Acredito que a desoneração da folha foi importantíssima – e continua sendo. Se ela não fosse importante, nós tínhamos eliminado e simplesmente abandonado. Acho que o ministro foi infeliz no uso do adjetivo. Agora, o fato é que tanto o ministro como todos os setores estão comprometidos com uma melhoria das condições fiscais do país", declarou Dilma.

Segundo a presidente, a desoneração da folha "é hoje uma realidade" e pode ser ajustada "para cima ou para baixo", de acordo com a conjuntura econômica. "O que nós garantimos é que haja um reajuste das condições. [A desoneração] será sempre um instrumento e não é um instrumento pura e simplesmente de ajuste fiscal. É um instrumento que vai permanecer. Agora, em certas conjunturas, tem de ser reajustado, ou para cima ou para baixo", afirmou.

A presidente disse que o Brasil sairá da crise econômica porque as atuais dificuldades são "conjunturais". Segundo ela, o emprego e a renda serão assegurados. "Pode ter certeza que o Brasil vai sair dessa crise ainda mais forte porque tem fundamentos sólidos. Nós passamos por dificuldades conjunturais, e isso garantirá que o pais sairá [da crise] com outro patamar, podendo continuar a crescer, garantindo os empregos que nós criamos e garantindo a renda que nós conquistamos", disse.

Na solenidade, da qual participou ao lado do presidente uruguaio José Mujica, Dilma defendeu em discurso a integração da América Latina. "Nós temos a obrigação de nos esforçar para nos unirmos, de tomar todas as providências para que possamos desfrutar de sermos um continente com grande riqueza [...] É possivel, sim, a integração. E é possível com os dois lados ganhando", afirmou Dilma.Indagada se estava reconhecendo erros na condução da política econômica, Dilma respondeu: "Meu querido, quando a realidade muda, a gente muda. É impossível achar por exemplo que a tarifa de energia decorre de erros. O aumento da tarifa de energia decorre da chuva. Quando aumenta a chuva, diminui a tarifa de energia porque entra energia hidrelétrica. Quando diminui a chuva, diminui a energia hidrelétrica, e a gente tem de contratar [energia] térmica, e térmica é mais caro", afirmou.

Neste domingo (1º), Dilma participará em Montevidéu da cerimônia de posse do presidente eleito do Uruguai, Tabaré Vazquez, que sucederá José Mujica pelos próximos cinco anos.

A presidente Dilma Rousseff com o colega José Mujica ao chegar para a inauguração de parque eólico no Uruguai (Foto: Roberto Stuckert Filho / PR)A presidente Dilma Rousseff com o colega José Mujica ao chegar para a inauguração de parque eólico no Uruguai (Foto: Roberto Stuckert Filho / PR)