Das gorjetas às queixas: ex-garçom, Mineiro mostra talento com a bandeja.
28/10/2015 10:25Lutador do UFC, Lucas Mineiro entra no restaurante e, minutos depois, coloca o uniforme adotado pelos garçons da casa. Em pouco tempo, está "camuflado" dentre os trabalhadores do estabelecimento, sem levantar suspeitas dos clientes, preocupados em saborear a especialidade do local: pizza ao forno. O peso-pena recebe as instruções dos funcionários - de verdade - e começa a mostrar a velha habilidade com a bandeja, adormecida após anos de treinos na Chute Boxe.
A vida adulta chegou cedo para Lucas Mineiro. Natural de Montes Claros, Minas Gerais, ele começou a ajudar informalmente a mãe, que trabalhava no restaurante da irmã. Aos poucos, a disposição se transformou em emprego, com carteira assinada, inclusive.

- Eu não podia ficar sozinho em casa, por isso, a minha mãe me levava com ela. Fiquei um ano somente na cozinha. Conforme fui crescendo, minha tia foi me dando uma grana. Depois, comecei a trabalhar diariamente até a coisa ficar séria e eu me tornar garçom de verdade. Foi uma coisa legal, meus primos também trabalhavam lá. Fui pegando o jeito, aprendendo a ser educado com o pessoal, a limpar a mesa, a arrumá-la. Foi natural, espontâneo, nada forçado - afirma o atleta, aoCombate.com, após servir uma pizza aos amigos e familiares que foram prestigiá-lo e, claro, comer.
Da brincadeira ao profissionalismo, Lucas Mineiro permaneceu como garçom durante cinco anos e meio. Foi tempo suficiente para que, na adolescência, conseguisse juntar seu próprio dinheiro. O primeiro salário ele jamais esquecerá.
- Comprei um tênis que eu queria muito, minha mãe não tinha condições de pagar. Minha tia pagou no cartão e descontou aos poucos. Eu recebia R$ 200 por mês. Era pouco, mas era o que tinha. Dava para sair com o pessoal no fim de semana. Sou de uma família humilde, que nunca me deixou faltar nada. Trabalhava para conquistar as minhas coisas e, à noite, estudava.
Com apetite típico de lutador mesmo antes de se tornar um, Lucas Mineiro afirma que servir aos clientes durante o horário de almoço era desafiador. Delícias da culinária regional saíam da cozinha e iam direto para a mesa dos famintos fregueses. Ele apenas salivava.

- A vontade de comer era gigante. Eu chegava de manhã e só comia às 15h, então passava muito tempo sem me alimentar. No horário de pico, tomava uma água ou um suco rapidinho na cozinha para poder aguentar. Era o perrengue que tinha, pois não podia comer na hora. O lado bom disso era ganhar gorjeta, a caixinha (risos).
Lidar com o humor instável dos clientes era outra barreira diária de Mineiro. Havia os que gostavam de seu atendimento, contudo, é impossível agradar a todos. Dentre erros e acertos, a máxima, no fim, prevalecia: o freguês tem sempre razão.
- Todo garçom tem uma história para contar. Já derrubei refrigerante na mesa, já deixei a bandeja bater na cabeça do cliente. Passei vergonha, mas a gente dá um jeito, pede desculpas e vai que vai. Já levei muita chamada dos clientes. Uma vez me falaram que eu não sabia trabalhar. Todo lugar tem cliente bom e ruim. O cliente está sempre certo (risos). Por outro lado, já ganhei muita gorjeta do pessoal que gostava do meu atendimento. Era brincalhão e atendia certinho. Fazia questão de cortar a carne e dar o melhor pedaço ao freguês para que ele voltasse. Com isso fui ganhando a confiança, o pessoal queria ser atendido por mim.

Após o período como garçom, Lucas Mineiro foi procurar emprego em outras bandas e correr atrás do sonho de ser lutador. O pupilo de Diego Lima treina e mora em São Paulo, porém, quando retorna ao restaurante, é uma espécie de celebridade onde reencontra antigos fregueses.
- Fico honrado por ter tido essa profissão. Não tenho vergonha do meu passado, ganhava pouco, mas, honestamente. Quando volto lá com minha namorada e meu treinador, sou reconhecido. É gratificante.