Separada do pai de Cuéllar - que também se chama Gustavo -, a mãe coruja do rubro-negro sempre o acompanhou de perto. Em paralelo à paixão do filho pelo futebol, dona Luz queria que o filho fosse sanfoneiro. Mas desde o Metrosol, passando pelo Johan até a seleção do Atlântico, no norte do país, e depois no Deportivo Cali e Junior de Barranquilla, o talento para ir e voltar, marcar e criar, logo apareceu. A família tinha pequeno comércio de material de construção, o que levou ao pequeno “fosforito”, outro apelido que o jogador carregou na Colômbia, a perguntar para a mãe com a pureza de criança.
- Mamãe, meu papai me fez com mistura de tijolo?
Agustin ri quando lembra da história. Cuéllar ouviu algumas vezes os companheiros de Flamengo o chamarem de “ferrugem”, mas não entendia o que era. Descobriu esses dias. Reservado, mas não tímido, o jogador mostra-se cada dia melhor adaptado ao Rio de Janeiro. Aqui, apareceu de vez para o cenário internacional, culminando no retorno à seleção colombiana e fazendo sua estreia nas Eliminatórias, na partida contra o Equador, no mês passado - ele entrou no segundo tempo. E mais: a esposa Gueraldin está grávida do primeiro filho do casal.
- Ainda não sei o sexo do bebê. Estou muito contente. Vai nascer carioca - diz o jogador.
Desde as seleções de base enfrentando Neymar, a quem considera o jogador mais difícil de marcar que já enfrentou, Lucas, Oscar, Casemiro, Danilo, entre outros que jogam em grandes clubes do futebol europeu, ele se sente orgulhoso de jogar no Flamengo e no futebol pentacampeão do mundo. Para ele, apesar das semelhanças no estilo de jogo, as dificuldades por aqui são maiores que na Colômbia:
- O futebol colombiano também é muito técnico, mas é claro que os brasileiros têm uma vantagem. Na Colômbia o futebol é muito mais pausado, se tem muito mais a bola, mas aqui é combinação de ambos, de velocidade, de toque e de buscar o gol rival - elogia.
Poucos amigos. Um deles é Riascos
Na sexta-feira da semana passada, o GloboEsporte.com conversou por 15 minutos com Cuéllar no fim do treino no Ninho do Urubu. De personalidade mais discreta que o outro gringo recém-chegado, o argentino Mancuello, Cuéllar vai percebendo as diferenças também nas relações fora de campo. Para quem acha que o jogador brasileiro se perde nas brincadeiras, ele surpreende e conta que em seu país a, digamos, distração pode ser bem maior.
- Aqui tem certo limite, lá não tem tanto. A brincadeira é muito mais pesada, aqui não - lembra o jogador do Flamengo.
Cuéllar sabe do que está falando. Há um vídeo no Youtube, com muitos acessos, em que ele brinca com um membro da comissão técnica e lembra, digamos novamente, o lance do chileno Jara com Cavani, do Uruguai, na última Copa América. Mas, ali, foi tudo na brincadeira.
- Sou uma pessoa de poucos amigos. Obviamente que quando me conhecem, conhecem quem eu sou. Sou uma pessoa muito simples, que tem seu caráter, muito tranquilo, gosto de ficar em casa - conta o filho de dona Luz, que no Rio se tornou amigo do compatriota e vascaíno Riascos. Os dois se encontram neste domingo, em Manaus, e vão ter que deixar a amizade de lado.
De personalidade forte, temperamental, como já se definiu em entrevistas, desde pequeno Cuéllar já se armava rápido quando alguém ia brincar com a cor do seu cabelo quando era criança - e queriam irritá-lo dizendo que ele o pintava de vermelho. Ainda no seu início no Rubro-Negro, ele mostra desenvoltura em campo. Com a língua, ainda pouca coisa. Entende o que o interlocutor fala, mas mostra pouca intimidade para falar português.
- Estar aqui é um privilégio. Estou em período de adaptação ainda, ainda não finalizado. Me sinto muito cômodo junto com meus companheiros, com a torcida e com o treinador Muricy, que me dá muito confiança. É um futebol muito exigente, que se torna muito físico também. Creio que essa adaptação está sendo boa e creio que estou indo num bom caminho.