Kelly Slater surge no meio de uma onda já com os braços para cima, comemorando. O mito do surfe sabia que o tubo já no primeiro minuto da bateria lhe renderia uma grande nota. E foi nota 10. Slater não derrotava Adriano de Souza desde 2010, com Mineirinho vencendo seis duelos consecutivos. Na manhã desta segunda, porém, o 11 vezes campeão do mundo deu o troco, e com juros. Na Praia da Barra, o americano atropelou o paulista, frustrou a torcida da casa e eliminou o último brasileiro do WCT Rio.
- Se qualquer um me vence várias vezes, isso me incomoda. Mas você não pode se preocupar com isso. Você tem que usar para te deixar focado e te dar uma razão para vencer, ou para fazer umplano de jogo. Mas você não pode deixar te incomodar muito, senão ele vai continuar te vencendo, vai ter uma vantagem mental sobre você. Às vezes você devolve. Acho que antes de ele me vencer seis vezes, eu venci umas seis vezes. Durante alguns anos, eu venci, e ele ficou frustrado. Depois ele me venceu por alguns anos, e eu fiquei frustrado. A gente está provavelmente bem parelho agora – afirmou Slater.
O americano ainda teve mais para comemorar na sequência. Ao derrotar o compatriota Nat Young para avançar à semifinal, assumiu a liderança do ranking. Agora, só pode ser ultrapassado pelo australiano Taj Burrow, que eliminou o havaiano Sebastian Zietz na última bateria das quartas de final. Nas semis, Slater encara Kolohe Andino, também dos Estados Unidos, enquanto Taj pega o taitiano Michel Bourez.

Mineirinho, por outro lado, lamentou e lembrou que a lesão sofrida na quarta-feira e o problema com as pranchas retidas na Receita Federal o atrapalharam durante a competição.
- Tive um problema sério antes de o campeonato iniciar. Acho que muitas coisas dificultaram o meu caminho, mas sem tirar nenhum mérito do Kelly Slater, porque ele é 11 vezes campeão do mundo. Como ele está 100% e eu não estou 100%, fica muito difícil bater um cara que é tão recordista do esporte.
Apesar de afirmar que não estava querendo polemizar, o brasileiro também reclamou que a nota 10 de Kelly Slater foi obtida fora da área de competição que havia sido informada para ele.
- Foi difícil ouvir uma nota 10 porque é o nível máximo no esporte. As condições estavam bem difíceis, mas tinha algumas oportunidades, e eu estava bem focado. Quando o Kelly pegou a nota 10, foi logo no primeiro minuto, então tinha 29 para eu tentar reverter o resultado. Mas eu acabei não achando as ondas boas e fiquei fora. Acho que eu não estava no dia. O campeonato me deu só uma opção para surfar e o Kelly Slater surfou em outra, que não poderia, mas aí foi validado. Não quero criar nenhuma polêmica, mas o campeonato não me deu a opção de ir para lá. Não me chateou porque faltava muito tempo para acabar a bateria. Mas por isso que saí do mar e fui para o lugar onde ele estava sentado. Eu poderia ter iniciado lá a bateria. Mas infelizmente aconteceu. Enfim, acho que não estava no dia, não estava na sincronia.
A BATERIA
Mal a bateria havia começado, e Kelly Slater já mostrava por que tem 11 títulos mundiais. O americano não perdeu tempo para pegar um belo tubo e sair já comemorando. Não à toa. O americano abriu o dia com uma nota 10, a primeira deste WCT Rio. Aos 42 anos, o mito do surfe dominava o mar da Barra.
Mineirinho, que tinha vencido os últimos seis duelos contra Kelly, foi empurrado pela corrente, teve de sair do mar para voltar ao ponto de saída. Ele sequer arriscava, esperava por uma onda boa para tirar a vantagem que no meio da bateria já era de 14,83 pontos e só crescia. Apenas uma virada incrível nos três minutos finais salvaria o último brasileiro na competição.
Kelly Slater ainda teve a ponta da prancha quebrada, mas nada que o atrapalhasse. A vitória estava muito bem encaminhada. Mineirinho só conseguiu pegar uma onda, no último minuto, e a nota foi baixa (3.73), e o americano venceu com somatório de 15,50 pontos para se classificar para as quartas de final.
- Eu tinha um plano de jogo bem claro. Eu entrei na água e sabia onde as ondas boas estavam e onde eu queria ir. Ele ter ido para o lugar onde eu estava, acho que ele pensou “oh, não, devo estar fazendo a coisa errada”. Acho que ele não tinha um plano de jogo, ele só foi lá e tentou pegar alguma onda boa. Aí ele estava jogando o meu jogo, em vez do dele, e talvez isso tenha deixado ele um pouco nervoso. Houve até algumas ondas em que ele entrou, mas estava um pouco para lá, ou um pouco para o outro lado, não exatamente no lugar certo, mas isso pode acontecer com qualquer um - analisou Slater.
RESULTADOS DA REPESCAGEM:
1: Adriano de Souza (BRA) 3,73 x 15,50 Kelly Slater (EUA)
2: Kolohe Andino (EUA) 6,83 x 6,50 Travis Logie (AFS)
3: Joel Parkinson (AUS) 8,60 x 8,10 Michel Bourez (TAH)
4: Josh Kerr (AUS) 8,17 x 11,76 Sebastian Zietz (HAV)
