Aos 42 e fora dos Jogos, Emanuel usa nova geração como combustível.
26/02/2016 14:42
Quem vê o campeão olímpico Emanuel em quadra não imagina que ele tenha 42 anos. Dono de uma forma física invejável e de técnica apurada, ele ainda joga em altíssimo nível e, apesar de não ter obtido sucesso em sua missão de se classificar para os Jogos Olímpicos de 2016 ao lado do parceiro Ricardo, é um exemplo para as novas gerações. E são justamente elas o combustível do veterano. Seu objetivo atual é transmitir experiência e ajudar jovens atletas em seu desenvolvimento. Além disso, quer ser a voz dos esportistas perante os organismos que administram o esporte.
- A satisfação que eu tenho em treinar é o de acompanhar uma nova geração. São atletas de 23, 24 anos, como Saymon, Guto Carvalhaes, Alisson Francioni e Vinícius, e é uma forma de passar experiência para eles, que estão cheios de energia. Com quase 43 anos (a serem completados em abril), e fisicamente bem, minha motivação é essa: transferir o que aprendi para os mais jovens - comentou, em entrevista ao site "Amo Vôlei de Praia".
Em recuperação de uma luxão no dedo médio da mão esquerda brincando com seu filho Lucas, de cinco anos, o Rei, como é chamado, ficou fora do Open de Maceió, que está sendo disputado essa semana em Alagoas, mas prevê a participação no Grand Slam do Rio, em março, também válido pelo Circuito Mundial de vôlei de praia. O objetivo é sentir um pouco do clima olímpico. Atualmente, ele e Ricardo são reservas de Alison Cerutti/Bruno Schmidt e Pedro Solberg/Evandro.
Ricardo está jogando com Harley em Maceió. Muito tem se especulado no meio do vôlei de praia sobre a aposentadoria do veterano Emanuel. Ele explica que o assunto é inevitável, mas que não parou ainda para pensar muito nisso. Contudo, a atuação fora das quadras já tem sido intensa, o que pode ser o indício de um novo caminho para o Rei.
- Estou com 25 anos de carreira, mas, confesso, ainda não parei para pensar nisso. Hoje, sinto que meu papel é ser a voz dos jogadores junto à presidência da comissão de atletas do Comitê Olímpico Brasileiro e da comissão nacional de atletas do Ministério dos Esportes. Esse meu engajamento é importante para manter a voz ativa e ajudar a mudar democraticamente os rumos do esporte - falou.

Questionado sobre a abertura da parceria com Ricardo e a busca por companheiros mais jovens, já que o jogador também é um veterano, Emanuel lembra que já fez isso com Alison Cerutti de 2009 a 2013 e que esse período serviu de crescimento para o Mamute que, hoje, integra um fortíssimo time ao lado do talentoso Bruno Schmidt.
- Foi o que eu procurei fazer com o Alison, de 2009 a 2013. Busquei passar a ele todo meu conhecimento. Não apenas dentro de quadra, mas fora dela, encarando o esporte com profissionalismo. Hoje vejo no Alison um espelho, observando que ele assimilou muito dos meus conceitos, e podendo utilizá-los nas Olimpíadas - relatou.
Emanuel é pai de Mateus, de 18 anos, e Lucas, de cinco. Em 2015, Mateus treinou no time juvenil de vôlei de quadra do Flamengo e foi até campeão estadual. Ele seguiu no elenco da Superliga B, como líbero, e já se aventurou no vôlei de praia. Federado por Alagoas, o herdeiro do Rei disputou o sub-21 pelo estado, mas o veterano não quer forçar a barra.
- Estou deixando-o bem a vontade e, ao mesmo tempo, feliz por saber que ele absorveu valores e por estar no meio do esporte.

Aos 42 anos, Emanuel relembrou alguns momentos de quando era novo ao falar de seu filho. Alguns deles, como abandonar o vôlei de quadra, foram difíceis. Outros, como a eliminação em Sydney 2000, dolorosos. Mas todos pavimentaram seu caminho para se tornar um ídolo no vôlei de praia.
- Quando sai do vôlei de quadra em 1991, e escolhi a praia, foi por querer jogar vôlei. Meus amigos diziam: como você vai largar uma coisa certa, com salário e contrato, para disputar um esporte-exibição? Eles não entendiam, mas vi no vôlei de praia uma grande chance de seguir fazendo o que gosto, de verdade, que é jogar vôlei. Meu momento de dor foi nas Olimpíadas de 2000, em Sidney, jogando ao lado do Loiola. Chegamos como favoritos e fomos eliminados, terminando em 9º lugar.
Aquele momento foi difícil e até pensei em parar de jogar. Mas usei como uma mola propulsora para montar um projeto mais robusto, e que me levou ao ouro olímpico em 2004. Com relação ao momento de amor, é a paixão que o vôlei de praia me despertou.
Especialista em Jogos Olímpicos, Emanuel fez um paralelo entre o momento vivido pelo país no aspecto econômico, moral e ético e o esporte.
- O momento atual, infelizmente, está ofuscando o melhor do esporte brasileiro, que são as Olimpíadas. Sonhamos com o Brasil sediar os Jogos e, a seis meses do evento, essa desatenção com os atletas me deixa triste. Acho que estamos perdendo uma grande oportunidade de ser uma potência no esporte - concluiu.